Sociologia:
dialogando com você
Um professor de Sociologia
ouviu o seguinte diálogo entre dois estudantes, no primeiro dia de aula do
primeiro ano do Ensino Médio:
– João, você viu as matérias
desse ano?
– Vi, Fabinho. Algumas são
fáceis, já conhecemos: História, Geografia, Literatura,
Artes, Educação Física,
Biologia...
– Então, João, vamos nos dar
bem, mas tem uma aqui, que é estranha, chamada Sociologia. Você sabe o que é
isso?
– Não, mas a Fafá, que está
no terceiro ano, disse que isto aí estuda tudo que a gente já sabe.
– Como assim?
– Ela disse que o professor
fala de violência, de racismo, de religião, de cultura e outras coisas. Mas,
também que a Sociologia estuda o que já vimos em Geografia e em História,
como globalização, capitalismo, estado, democracia etc.
– Então, vai ser muito fácil,
João! É só a gente dar opiniões sobre as coisas da vida que o professor nos
dá dez.
O professor ouviu este
diálogo sem querer, pois os estudantes estavam conversando animadamente e não
perceberam a sua presença. Nesse dia, ele iria dar aula exatamente na turma
de João e Fabinho. E quando entrou na sala de aula, não teve dúvidas: começou
um bate-papo com os estudantes sobre “as coisas da vida”. Levantando questões
como: será que os desempregados são os próprios culpados por não conseguirem
trabalhar?
Todos os jovens têm as mesmas
oportunidades para ingressar no mundo do trabalho?
Qual a influência da
religiosidade na sociedade? Ou será que, quando pensamos na religião que
professamos, entendemos que se trata de um assunto “íntimo” – que faz parte somente
de nossa vida privada? E muitas outras perguntas sobre “as coisas da vida”
que fizeram com que João e Fabinho pensassem:
– Isso não vai ser fácil, não!!! A gente pensou
que era tudo óbvio, mas o professor “tá” nos mostrando que a vida em
sociedade precisa ser mais estudada.
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E você, surpreende-se logo no início do
ano letivo com esta disciplina chamada Sociologia? E se pergunta também: que “matéria”
é essa? Para que serve? Afinal, por que devemos estudar essa disciplina?
De fato, acompanhando a curiosidade em torno
do que deve significar uma disciplina chamada “Sociologia”, oferecida no Ensino
Médio, no primeiro contato com o professor, uma parte dos estudantes, mesmo sem
conhecer os temas e a forma como eles serão tratados, já começa a imaginá-la
como uma disciplina “estranha” e que “não tem nada a ver”, mesmo avaliando que
o professor pareça ser um cara “legal”.
Na verdade, essas dificuldades iniciais
têm várias razões. Uma delas é o próprio fato de vivermos numa sociedade
altamente tecnologizada, em que se exige tanto ao jovem como aos adultos uma
utilidade prática nos conhecimentos adquiridos em todas as disciplinas
ministradas no Ensino Médio.
O mundo atual, automatizado, computadorizado, em crise
de emprego, exige conhecimentos práticos que nos deem agilidade, que nos ajudem
a encontrar mais rápido alguma forma de “ganhar a vida”, sem “perder tempo” em
divagações filosóficas ou políticas. Enfim, precisamos de conhecimentos
práticos para demonstrar competência no mercado de trabalho.
Ora, quando desenvolvemos esse
raciocínio, estamos fazendo, certamente, uma análise social de nosso convívio
com outras pessoas e isto é uma forma de reflexão sociológica. Mas vamos logo
iniciar essa nossa longa caminhada e tratar de esclarecer o que é a Sociologia,
qual seu objeto de estudo e sua importância no Ensino Médio.
Antes de dizermos o que essa nova disciplina significa,
já adiantamos que a Sociologia não é o estudo do homem e seu meio; para isso
temos a Geografia. Não é o estudo da história dos homens e das sociedades; para
isso temos a História propriamente dita. Essas duas disciplinas já são
conhecidas pelos estudantes desde o Ensino Fundamental. Mas eis que surge a
Sociologia que, de certa forma, utiliza os conhecimentos geográficos e
históricos para explicar o comportamento humano em sociedade. Aliás, como
veremos, a Geografia e a História se alimentam dos conhecimentos sociológicos
para explicar muitos fenômenos pertinentes ao espaço geográfico e aos acontecimentos
históricos.
Ciências Sociais e Ciências da Natureza
Assim como a eletricidade é um fenômeno
estudado pela ciência chamada Física, como os organismos que possuem células
são estudados pela Biologia e os elementos oxigênio e carbono são objetos de
estudo da Química, a Sociologia estuda os fenômenos sociais. Ou seja, as
relações que os indivíduos estabelecem entre eles próprios, gerando normas de comportamento,
atitudes, formação de grupos e elaboração de ideias sobre os mesmos grupos. Sinteticamente,
estes são os objetos de estudo da Sociologia.
Émile Durkheim, considerado “pai” da Sociologia
acadêmica, afirmou que os fenômenos sociais são sui generis, isto é, o seu entendimento
requer uma ciência específica para seu estudo. Sui generis é um termo do latim,
que significa, literalmente, “de seu próprio gênero”, ou seja, “único em seu
gênero”.
Vejamos um exemplo:
Recentes estudos já comprovaram que o
cigarro faz mal à saúde. Todos sabem disso, mas um professor de Química pode
nos explicar que os elementos químicos encontrados no cigarro (alcatrão e
nicotina) causam uma determinada reação no organismo, o que, ao final de
alguns anos, pode provocar câncer de pulmão. Por sua vez, a Biologia vai
explicar como esses elementos químicos deterioram os pulmões, cuja função é
vital para o corpo humano.
Tudo bem! Mas por que as pessoas que
sabem disso continuam fumando?
Bom, para responder a esta pergunta
podemos procurar a Psicologia. Talvez afirmando que os fumantes são
facilmente influenciados por outros e por alguma publicidade. Esta seria uma
forma de explicação sobre o comportamento das pessoas que fumam.
Mas será somente essa a explicação? E
por que se produzem maços e maços de cigarro, já que as indústrias sabem que
é prejudicial à saúde? Por que o governo, por um lado, apesar das novas
regras de propaganda, permite a venda de cigarros e, por outro, proíbe, por
exemplo, a venda de maconha?
Certamente a Química não pode dar uma
resposta, nem mesmo a Biologia. Aqui, então, entra em cena a Sociologia, que
vai explicar os interesses econômicos das grandes multinacionais, cujo
objetivo é o lucro – legitimado pela maioria dos governos do mundo e principal
fator da existência do capitalismo. O capitalismo é um sistema econômico,
social e político que é objeto de estudo da Sociologia.
Enfim, os efeitos químicos do cigarro são objetos sui
generis da Química e as consequências orgânicas para os pulmões são objetos
sui generis da Biologia. Entretanto, o motivo que leva pessoas, proprietários
das fábricas de cigarro, a produzir o cigarro é objeto sui generis de estudo
da Sociologia.
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Portanto, nesse exemplo, podemos
compreender que para se entender o uso do cigarro na sociedade é necessário
entendê-lo sob o ponto de vista da Química, da Biologia e da Psicologia – assim
como da Sociologia.
Este é somente um exemplo que a Sociologia nos mostra
para podermos entender uma questão básica: nossa vida cotidiana é social, ou seja,
não estamos sós no mundo. Estabelecemos relações com outros indivíduos e
criamos regras de convivência. Algumas já existiam quando nascemos e,
provavelmente, existirão depois de nosso falecimento. Concluímos, então, que o
indivíduo é um produto social, isto é, o que as pessoas fazem é condicionado,
muitas vezes, pela convivência com outros indivíduos e grupos de indivíduos.
Neste
sentido, a preocupação central da Sociologia é com o ser humano e suas relações
sociais, pois entende-se que os indivíduos não são isolados. Ao contrário, relacionam-se
uns com os outros e formam grupos sociais, com regras de comportamento e
atitudes diversas na família, na escola, no trabalho, no lazer e em outros
espaços de convivência cotidiana.
Se o fumo é prejudicial à saúde, por que é tão difícil para algumas pessoas deixar de fumar?
Mas estas regras de comportamento não são
estáticas; pelo contrário, são bastante dinâmicas. Ou seja, na História da
humanidade, homens e mulheres modificam seus comportamentos, atitudes e formas
de lidar com a realidade. Exemplo disto é a existência do divórcio, recurso de
que nossos avós e bisavós não podiam se utilizar quando a união matrimonial não
mais satisfazia o casal.
Além disso, existem sociedades que são bem
distintas da nossa e que estabelecem regras diferentes de comportamento neste
mesmo período histórico em que vivemos atualmente. É o caso se compararmos
formas de matrimônio encontradas nas sociedades que seguem os preceitos das
religiões muçulmanas (baseadas na poligamia) com aquelas encontradas, por exemplo,
no Brasil (baseadas na monogamia).
A Sociologia, além de estudar as relações sociais e os
comportamentos dos indivíduos e dos grupos sociais, questiona o porquê da existência
de conflitos entre estes grupos, as razões de indivíduos e grupos quando tentam
quebrar as regras de funcionamento das sociedades, ou quando criam movimentos
para questionar ou legitimar essas mesmas regras. Neste caso, é quando se
formam os chamados movimentos sociais como, por exemplo, o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem-Terra – MST, o Movimento dos Sem-Teto, o Movimento
Estudantil etc.
O
sociólogo norte-americano Charles Wright Mills escreveu um livro, muito
interessante, chamado A imaginação sociológica, publicado pela primeira vez em
1959. Nesse livro, com o objetivo de explicar a importância da Sociologia,
Wright Mills diz que essa ciência representa uma qualidade do espírito humano que
nos ajuda a perceber o que está ocorrendo no mundo e como nos situamos neste
mundo. Mas como?
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Charles Wright Mills (1916-1962), o sociólogo que elaborou o termo “imaginação sociológica”. |
Bom, ele dá o exemplo simples do
desemprego. Ou seja, quando, em uma cidade de milhares de habitantes, somente
um indivíduo está desempregado, isto é um problema pessoal desse indivíduo. E
para entender este problema, talvez tenhamos que observar o caráter dessa
pessoa, suas habilidades e suas oportunidades. Porém, quando temos 15 milhões
de desempregados num país de 50 milhões de trabalhadores (ou seja, pessoas em
idade produtiva, que podem exercer uma ou outra profissão), isto já não é um
problema de caráter ou de habilidades, mas um problema público, que tem a ver
com uma estrutura e com um certo funcionamento da sociedade.
Outro exemplo que ele dá é o caso do divórcio. Num
casamento, o homem e a mulher podem ter perturbações pessoais, levando-os ao
divórcio. Mas, quando o número de divórcios cresce numa cidade e, de cada 1.000
casais nos primeiros quatro anos de casamento, 250 se separam, isto pode ter
alguma relação com a instituição do casamento naquela determinada sociedade.
Wright Mills vai dizer que a recorrência de muitos divórcios pode estar
relacionada à estrutura da família enquanto instituição.
Enfim, Wright Mills está nos
apresentando uma questão simples e que serve para pensar nossas vidas, ou seja,
aquilo que experimentamos na vida em vários e específicos ambientes cotidianos,
como desemprego, separações etc., muitas vezes é influenciado pelas
modificações culturais, econômicas ou outras de caráter mais geral que ocorrem
nas sociedades. Por isso é que ele diz que precisamos ter consciência da ideia
e da existência de uma estrutura da sociedade, das relações sociais e
utilizá-las com sensibilidade, para sermos capazes de identificar as ligações
entre as nossas diversas experiências da vida cotidiana. Ter essa consciência e
essa capacidade é ter uma imaginação
sociológica.
Agora pensando: Quais são os seus problemas
cotidianos? Quais são as questões que mais lhe preocupam? É claro que você já pensou
nisso alguma vez. Mas, vamos tentar imaginar esses problemas e preocupações sociologicamente.
Será que eles têm a ver só com o seu comportamento, com as suas atitudes ou com
o seu modo de ser? Será que a Sociologia pode ajudar a pensar sobre seu cotidiano?
Então, vamos viajar um pouco no mundo da Sociologia a partir de agora.
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Manifestação pacífica contra o governo norte--americano: o acesso ao
conhecimento e à informação é essencial para permitir a participação consciente e crítica. |
E quando alguns adultos dizem que os jovens não
se interessam por essas discussões?
Nós, autores deste livro, já ouvimos em
muitas escolas brasileiras algumas afirmações de que os jovens não se
interessam pela discussão da Sociologia, pois não veem sentido na “matéria” ou
são atraídos por coisas mais interessantes fora da escola. Entendemos, porém,
que quando muitos jovens perguntam para que serve a Sociologia, ou quando afirmam
que muitas disciplinas são “chatas”, nós precisamos compreender o que está por
trás desses comentários.
Para conversarmos a respeito disso, leia, a seguir, um
artigo escrito por um psicanalista italiano radicado no Brasil, Contardo
Calligaris e publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 12/12/2002. Ele relata a
exigência dos jovens acerca dos estudos:
Vida
divertida ou vida interessante?
Uma reportagem do The New York Times
descrevia uma nova moda nos colégios americanos, graças à qual o ensino de
Ciência está se tornando curiosamente popular.
Nos EUA, os requisitos mínimos para o
diploma secundário são bastante livres. Há tempos, para quem não gosta de
estudar Química, Física ou Biologia, existem matérias alternativas, como a
“Ciência da Terra” ou a Ecologia. Agora é a vez da “Ciência Forense”, idealizadíssima
pelos seriados televisivos, pelo cinema e pelos romances policiais. Assim, em
vez de estudar leis e fórmulas, os alunos aprendem como determinar a hora da
morte, considerando o estado de um cadáver (aulas práticas no necrotério).
Familiarizam-se com o microscópio, examinando pelos de possíveis estupradores
encontrados no corpo da vítima. Entendem o que são o esperma ou o sangue,
investigando uma hipotética cena do crime.
Nas escolas em que os cursos são
oferecidos, os jovens são entusiastas. Por que bancar o estraga-prazeres?
O fato é que a reportagem me deixou
um mal-estar. Fiquei com a impressão de que a Química, a Física e a Biologia
estivessem desistindo de ter qualquer apelo próprio. As formas estabelecidas
da diversão (sobretudo a televisão e o cinema) decidiriam como e o que
podemos aprender. Filosofia, História e Inglês (Português, no nosso caso)
seriam vítimas do mesmo processo.
Lembrei-me de conversas recentes com
um jovem estudante universitário que (com grande angústia dele e dos pais)
quer largar os estudos, ao menos temporariamente. Ele queixava-se de que
todos os cursos seriam chatos. “Como assim, chatos?”, perguntei. “Não são
divertidos”, respondeu. Estranhei: Quem disse que um curso deve divertir?
(...)
A partir dos anos 90, encontro
adolescentes para quem o mundo parece tolerável apenas se puderem distrair-se
dele. E os vizinhos são frequentáveis à condição de não se comprometer com
eles. O que era alienação nos anos 60 tornou-se escolha de vida nos 90 (...)
(CALLIGARIS, 2002)
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Para uma parte dos adolescentes, mas não
todos, viver é divertir-se, diferente do que significava para gerações
anteriores de jovens. Não queremos dizer com isso que condenamos a diversão,
mas que, afinal, há tempo para tudo na vida, como a distração e o lazer; assim
como há necessidade de reservar parte do nosso tempo para dar conta das
responsabilidades, como o estudo e, depois de formados, o trabalho. Da mesma
forma, podemos acrescentar que nossa vida e nossa sociedade também merecem ser
pensadas, compreendidas e, por que não, modificadas.
A inspiração e o compromisso da
Sociologia são com o entendimento da realidade social. O papel da Sociologia é
contribuir para que repensemos a nossa visão de mundo, deixando de lado nossas
ingenuidades e preconceitos. Sua tarefa teórica é se contrapor à visão do que
predomina no senso comum, que considera que o útil é o que dá prestígio, poder,
fama e riqueza – julgando o conceito de utilidade pelos resultados do que a
maioria das pessoas considera como “ações práticas” da vida cotidiana.
Não se deixando guiar pelo senso comum,
a Sociologia nos instrumentaliza com conhecimentos para nos tornarmos
conscientes de nós mesmos e das ações de homens e mulheres que desejam
profundamente a liberdade e a felicidade.
Vamos tirar algumas dúvidas?
O senso comum e a Sociologia
Até aqui nos preocupamos em argumentar sobre
a necessidade de estudar Sociologia, pensar nosso mundo sociologicamente e sua utilidade
na vida de milhões de jovens. Agora queremos ressaltar uma discussão importante
neste campo de conhecimento e estudo: a diferença entre senso comum e
Sociologia.
Um professor de Sociologia define senso comum como:
(...) falsas certezas e convicções equivocadas
sem a base de um conhecimento racional ou de uma adequada compreensão, sendo
ditas pelas pessoas a todo instante sobre as mais diversas coisas. A
característica principal é a de que o senso comum baseia-se no que está
aparente, na aparência das coisas, como as coisas parecem ser. Por exemplo: o
Sol é menor do que a Terra e é ele que gira ao redor dela. Tendo o seu ponto
de referência a própria Terra e da maneira que é realizada esta observação, o
que pode parecer é que aquela seja uma afirmativa correta. Porém, só parece, pois
a Astronomia, com seus cálculos matemáticos e suas considerações físicas
verifica na realidade que o Sol é muitas vezes maior que a Terra, e desde Copérnico
confirma-se na realidade que é a Terra que se move em torno do Sol. Da mesma
forma que este simples exemplo, a Sociologia recorrentemente defronta-se com
o senso comum das pessoas, desdobrando-se em imobilidades, discriminações e
preconceitos.
(GIGLIO, 2000, p. 3)
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O senso comum se caracteriza por
opiniões pessoais, generalizantes. Ou seja, julgam-se coisas ou fatos
específicos como se fossem coisas ou fatos universais. Enfim, falsas certezas
sem fundamentação científica, como por exemplo, “todo bandido é favelado”, “todo
político é corrupto”, “o povo brasileiro é preguiçoso” etc.
Mas o que é uma atitude científica em
Sociologia? É a atitude de, a partir da constatação de um problema social,
observar os fatos e a realidade dos indivíduos e grupos, suas relações, formular uma hipótese de explicação, pesquisar e
estudar com maior profundidade o assunto e, ao final, pronunciar leis ou
tendências de que um fato possa ocorrer em razão de determinados motivos.
Vamos descrever um exemplo:
Temos um problema social que se chama desemprego
(é “social” porque sua origem se relaciona com a forma de organização da sociedade,
atingindo vários indivíduos). A partir dessa constatação, poderíamos formular a
hipótese de que a política econômica de um governo promove o desemprego. Em seguida,
passamos a observar a realidade com dados estatísticos em mãos, pesquisas com desempregados
para ver os motivos que levaram ao desemprego e etc. Ao final, retornamos à
nossa hipótese e podemos verificar se determinadas decisões políticas
governamentais tendem a provocar o desemprego em massa num país.
A mesma atitude pode ser tomada para se
pensar sobre as possíveis causas da violência. Ao contrário do senso comum, não
devemos partir para generalizações ao primeiro contato com um fenômeno social.
É necessário investigar as relações entre os fatos e acontecimentos e também
suas raízes históricas, como, por exemplo, a questão do racismo na sociedade brasileira.
Certamente, este fenômeno social tem fortes raízes na escravidão, mas
principalmente nas relações que o homem branco europeu estabeleceu com os povos
africanos e indígenas a partir do século XV.
Portanto, posteriormente, trabalharemos
com várias teorias sociológicas, conceitos e temas que nos ajudem na nossa
imaginação sociológica. Ou seja, vamos partir do senso comum sobre como são
entendidos os fenômenos sociais, sobre as relações que existem entre os indivíduos
e problematizar esse senso comum.
E aquilo que pode nos parecer “natural” nas relações
sociais pode ser “desnaturalizado”, deixando de ser visto como natural e até
mesmo imutável, para ser compreendido como é, algo social; ou, como nos diz
Wright Mills (1975), para compreender nosso mundo cotidiano, vamos olhar além
dele.
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