Entre os estudiosos que se preocuparam em
analisar a relação do individuo com a sociedade destacam-se autores clássicos
da Sociologia, como Karl Marx (1818-1883), Emile Durkheim (18581917) e Max
Weber (1864-1920), e outros mais recentes, como Norbert Elias (1897-1990) e
Pierre Bourdieu (1930-2002).
Karl Marx, os
indivíduos e as classes sociais
Para o alemão Karl Marx, o ser humano, além do
resultado da evolução biológica da espécie, é um produto histórico em constante
mudança, dependendo da sociedade na qual está inserido e das condições em que
vive. Assim, os indivíduos devem ser analisados de acordo com o contexto social
em que vivem.
O homem primitivo, segundo Marx, diferencia se
dos outros animais não apenas pelas características biológicas, mas também por
aquilo que produzia no espaço e na época em que vivia. Coletando alimentos,
caçando, defendendo se e criando instrumentos, nossos ancestrais construíram
sua história e sua existência na sociedade.
Ao produzir as condições materiais de
existência, o ser humano elabora sua consciência, seu modo de pensar e conceber
o mundo, isto é, as explicações, as leis, a moral e a religião em uma
sociedade. E nesse sentido que Marx afirma que é a maneira como os indivíduos
produzem sua existência que condiciona o processo de vida social, politica e
intelectual, ou seja, o modo como a pessoa vive determina como ela pensa.
Assim, a sociedade produz o individuo e este produz a sociedade.
A capacidade de se relacionar em sociedade trabalhando,
aprendendo, construindo e inovando é uma característica fundamental do ser
humano. Por isso, Marx não analisa um individuo genérico, abstrato, mas os indivíduos
humanos reais que vivem em uma sociedade histórica. A produção da individuo
isolado, fora da sociedade, é tão inconcebível quanto o desenvolvimento da
linguagem sem indivíduos que vivam juntos e conversem.
Constituição das
classes
De acordo com Marx, na sociedade capitalista
quando se desenvolveu de medo mais preciso o trabalho assalariado, os
trabalhadores perderam o domínio sobre sua vida e passaram a depender do
capitalista; não trabalham mais para si, mas vende seu trabalho e não conseguem
se reconhecer no que fazem e produzem.
É na luta diária para se contrapor a esse tipo
de vida desumanizado, no qual são reduzidos a uma coisa que pode ser vendida,
comprado e até descartada, que os indivíduos trabalhadores se identificam e se
unem para questionar a realidade de exploração, configurando uma classe social.
Ao analisar a sociedade capitalista e os
indivíduos, Marx trata das relações entre as classes sociais, mas a ideia do
individuo como ser social continua presente. Isso fica claro quando Marx afirma
que os seres humanos constroem sua história, mas não da maneira que querem,
pois são condicionados por situações anteriores. Para ele, existem fatores
sociais, políticos e econômicos que levam os indivíduos e as classes a
percorrer determinados caminhos, mas todos têm capacidade de reagir a essas
situações e até mesmo de transformá-las.
O ponto central da análise que Marx faz da
sociedade capitalista está nas relações estabelecidas entre as classes que
compõem essa sociedade. Para ele, só é possível entender as relações dos indivíduos
com base nos antagonismos, nas contradições e nos conflitos entre as classes
sociais, ou seja, na luta de classes que se desenvolve a medida que homens e
mulheres procuram satisfazer suas necessidades, sejam elas oriundas do estômago
ou da fantasia.
O "homem real" faz a História: populares invadem a Assembleia
Constituinte da França em 15 de maio de 1848, para forçá-la a manter suas
conquistas democráticas e sociais. Pintura de autor desconhecido, sem data.
nas palavras de
MARX
e ENGELS
Burgueses e proletários
A história de todas as sociedades até hoje
existentes e a história das lutas de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu,
senhor feudal e servo, mestre de corporação e companheiro, em resumo,
opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra
ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre ou
por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição
das duas classes em conflito.
Nas mais remotas épocas da História,
verificamos, quase por toda parte, uma completa estruturação da sociedade em
classes distintas, uma múltipla gradação das posições sociais. Na Roma antiga
encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos, na Idade Média,
senhores, vassalos, mestres das corporações, aprendizes, companheiros,
servos, e, em cada uma destas classes, outras gradações particulares.
A sociedade burguesa moderna, que brotou das
ruinas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez
mais do que estabelecer novas classes, novas condições de opressão, novas
formas de luta em lugar das que existiram no passado.
Entretanto, a nossa época, a época da
burguesia, caracteriza-se por ter Simplificado os antagonismos de classe. A
sociedade divide-se cada vez mais em dois campos opostos, em duas grandes
classes em confronto direto: a burguesia e o proletariado.
[...]
MARX, Karl; ENGELS,
Friedrich. Manifesto comunista. São
Paulo: Boitempo, 1998. P.40-41.
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