Ao longo da história da
humanidade, foram frequentes os encontros entre grupos sociais cujas diferenças
eram percebidas principalmente pelos traços físicos. Essas características
passaram a servir, então, como critério para classificar os grupos humanos.
A partir do século XV, os
europeus lançaram-se à exploração do mundo. Nessa época, as diferenças entre os
grupos humanos com base no fenótipo - conceito da Biologia que define o
conjunto de características físicas de um ser vivo -, associadas aos interesses
econômicos e políticos das elites das metrópoles, serviram como critério para
justificar a exploração das populações nativas da Ásia, da África, da Oceania e
das Américas pelos colonizadores europeus (espanhóis, ingleses, franceses,
portugueses e outros). Por apresentarem características físicas e culturais
diferentes, os nativos passaram a ser considerados inferiores e, em alguns
casos, desprovidos de humanidade.
Nesse contexto, as diferenças
físicas foram utilizadas como rótulo qualificativo e indicativo de suposição de
superioridade e de inferioridade, diferenciando colonizadores e colonizados sob
a premissa do etnocentrismo.
Estavam criadas as condições
para especular sobre as diferenças com base na cor da pele, inicialmente
atribuída à maior ou menor intensidade da luz solar. No século XVIII, a cor da
pele foi transformada no principal critério classificatório das hierarquias
raciais produzidas pelas Ciências Naturais. Controlado pelos interesses
econômicos e políticos das elites metropolitanas europeias, o processo de
colonização buscou subordinar as populações nativas da Ásia, da África, da
Oceania e das Américas explorando ao extremo seus recursos humanos e naturais.
Os europeus justificaram suas ações com a ideia de que esses povos eram
inferiores porque possuíam características físicas e culturais diferentes.
Construía-se, assim, uma forma de agir perante o outro que conhecemos como
racismo e que envolve toda ação preconceituosa, discriminatória ou
segregacionista perpetrada contra quaisquer indivíduos e grupos por causa de
sua origem étnica ou racial.
Como teoria, tentava-se
justificar uma superioridade europeia com base em supostos atributos herdados
biologicamente. Tratava-se de uma visão de mundo carregada de ideologias
(pensadas como falsa consciência da realidade) que escondiam um fato não
confessado: a relação de poder e dominação de determinados grupos sobre outros.
A ideologia do racismo
baseou-se em estudos do comportamento humano que procuraram explicar as
diferenças sociais e culturais apoiando-se nos conceitos das Ciências Naturais.
Tais estudos influenciaram a criação de teorias raciais e eugênicas que buscavam
justificar a ideia da existência de povos “inferiores” e “superiores”. Essas
teorias ainda estão na base do pensamento que sustenta o racismo.
Teorias raciais e eugênicas
Entre final do século XIX e
início do século XX, a ideia de superioridade entre os grupos étnicos e
raciais, isto é, de que existem grupos humanos fortes e fracos segundo
características físicas herdadas biologicamente, foi associada a traços
intelectuais e morais. Essa soma de suposições deu suporte para a difusão de
argumentos pretensamente científicos que justificaram ações políticas de
controle social exercidas pelas elites dominantes sobre as populações
dominadas, negras e indígenas.
Eugenia
Termo desenvolvido pelo inglês Francis Galton
(1822-1911) que significa “bem-nascido”. Propõe o melhoramento da espécie
humana pela reprodução de indivíduos com características desejáveis.
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Para estudiosos da época, o
termo “raça” definia um grupo humano com características próprias - físicas,
psicológicas e culturais -, transmitidas pelos antepassados. De acordo com essa
visão, as diferenças humanas são determinadas essencialmente pelo fator
biológico, e os indivíduos são herdeiros dos traços físicos e das aptidões de
seu grupo social de nascimento.
O chamado racismo científico e
a tese da eugenia, bem como seus
defensores, surgiram nesse contexto. Entre os representantes dessa linha de
pensamento europeu que tiveram forte influência no Brasil estão o ensaísta
francês Arthur de Gabineau (1816-1882) e o médico italiano Cesare Lombroso
(1835-1909).
Para Cesare Lombroso, a
diferença entre uma pessoa honesta e uma pessoa criminosa estaria relacionada a
aspectos físicos. Seus estudos procuraram no organismo humano características
próprias dos criminosos. As ideias de Lombroso tiveram grande repercussão em
diversas áreas do conhecimento, influenciando pesquisadores na Europa e na
América Latina.
A difusão dessas ideias
contribuiu para a efetivação do racismo como ação política e ideológica. O
critério racial passou a ser elemento explicativo de diferenças de aptidão, de
modos de viver e de ocorrências de tendências criminosas. A combinação das
características físicas herdadas por uma pessoa com certos traços de sua
personalidade, inteligência ou cultura indicaria a existência de raças humanas
naturalmente inferiores ou superiores a outras. Essa falsa ideia levou muitos a
acreditarem num determinismo dos caracteres biológicos, herdados da natureza,
sobre os traços da personalidade e da cultura.
O racismo supõe a existência de
“raças” humanas e a caracterização biogenética de fenômenos puramente sociais e
culturais. Além disso, também é uma modalidade de dominação ou uma maneira de
justificar a dominação de um grupo sobre outros inspirada nas diferenças
fenotípicas da espécie humana.
A ideologia racial teve grande
sucesso no Brasil do século XIX. A ideia da superioridade dos brancos europeus
foi bem-aceita por parte dos intelectuais da época, especialmente médicos,
advogados e políticos, os quais desejavam construir um país à semelhança da
Europa. O movimento abolicionista e mesmo a abolição da escravidão, em 1888,
não foram capazes de alterar essa ideia. Os negros e mestiços se viram, em sua
maioria, relegados a posições subalternas na sociedade brasileira, e suas
práticas culturais, como o samba, a capoeira e o candomblé, foram muitas vezes
criminalizadas.
Como consequência os grupos
dominantes implementaram um conjunto de políticas de imigração que favoreciam a
mão de obra europeia com instrumentos legais (leis, decretos etc.). Além das
razões econômicas, buscou-se estimular a miscigenação da população brasileira
com a europeia para promover o “branqueamento” da sociedade.
Para aqueles que pensavam assim
naquela época, o negro e o mestiço representariam o atraso da sociedade
brasileira rumo ao progresso e à modernidade, bem como um empecilho para a construção
da identidade nacional.
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