sexta-feira, 22 de maio de 2020

Ideologia e comportamento social

Para começarmos nossa discussão sobre Ideologia, façamos antes uma pequena reflexão. Imaginemos que nossa escola vem enfrentando uma série de problemas que está prejudicando o desenvolvimento adequado das atividades. Diante disso, funcionários, estudantes e responsáveis convocaram uma assembleia para decidir se vão entrar em greve até que os problemas sejam resolvidos. Quais elementos vão orientar as decisões dos membros da escola? E como você vai tomar sua decisão?

Na vida social, quando enfrentamos um problema, buscamos soluções para ele. No entanto, as soluções encontradas não são neutras, ou seja, não estão isentas de valores. Todos os indivíduos e grupos sociais possuem interesses diretamente relacionados às ideias que construímos ou que são apresentadas no processo de interação social.
Voltando ao exemplo, imaginemos que na assembleia teremos pessoas que são favoráveis à greve, aquelas que são contrarias à paralisação e outras propostas de ação. Cada uma dessas atitudes expõe um olhar especifico sobre o mundo e uma forma de explicação da realidade social. Esse conjunto de ideias e valores que orientam o comportamento e as decisões dos indivíduos e grupos compõe a ideologia.
Nossas ações e percepções do mundo são baseadas em ideologias. Como veremos nos tópicos a seguir a ideologia, assim como a cultura, é um elemento essencial para a compreensão das relações sociais.
Assembleia de professores em greve, no Rio de Janeiro (RJ), em outubro de 2013. As decisões que tomamos em nosso dia a dia são influenciadas pelas ideologias presentes na sociedade.

O conceito de ideologia como falsa consciência
Nas Ciências Sociais, o uso do conceito de ideologia está inicialmente relacionado aos estudos desenvolvidos por Karl Marx. Com base em um debate travado com outros pensadores sobre o desenvolvimento da consciência, Marx, em parceria com Engels, desenvolveu o conceito de ideologia como ilusão ou falsa consciência, em uma série de manuscritos de 1846 que se tornaram conhecidos como A ideologia alemã.

Esferas sociais: infraestrutura e superestrutura

Na visão de Karl Marx, infraestrutura e superestrutura são duas esferas da sociedade que estão relacionadas e se complementam.


Nessa definição, Marx procura se contrapor à visão dominante em seu tempo de que o desenvolvimento da razão humana por si só modificaria o mundo, ou sejas, as ideias seriam o fundamento da realidade. Marx contra-argumenta explicando que a sociedade é compreendida em duas esferas. A Infraestrutura é a esfera da produção material, que produz os bens que satisfazem as necessidades materiais. Já superestrutura representa o conjunto das ideias, das leis, das religiões, da moral e das organizações políticas existentes em uma sociedade. Essas duas esferas se relacionam mutuamente, devendo ser percebidas como um todo estruturado.
Afirmar que as ideias (que pertencem superestrutura) são autônomas consiste num representação falseada das relações sociais, desenvolvida pelas classes dominantes com objetivo de manter as classes trabalhadoras sob seu controle. Significa desconsidera que as relações materiais de produção construídas fundamentam o modo como cada um explica e interpreta o mundo. Por isso, nesse sentido, a ideologia e visto por Marx como uma falsa consciência da realidade.
Como explicar isso? Pensemos no seguinte exemplo. Nas últimas décadas, houve mudanças profundas na forma de organização das empresas em todo o mundo. Com base em propostas para maximizar os ganhos e minimizar os custos de produção, foram implementadas, com a anuência do Estado, diversas estratégias que, entre outras consequências, reduzem o número de trabalhadores empregados e aumentam o desemprego. Na concepção defendida por Marx as mudanças na base material (formas de organiza do da produção) e na postura do Estado (superestrutura) explicam as dificuldades dos trabalhadores de encontrar emprego.
 
Para Marx, a ideologia é o universo simbólico que garante a manutenção da ordem vigente sob o controle das classes dominantes.
 Contudo, ao mesmo tempo, para evitar que se perceba a causa real do aumento do desemprego, as classes dominantes desenvolver uma explicação dessas mudanças segundo a qual as dificuldades para conseguir emprego são atribuídas à falta de qualificação profissional ou de dedicação dos trabalhadores. Essa forma de explicar o desemprego faz com que muitos trabalhadores considerem que estão desempregados por sua própria culpa.
Temos nessa situação, um caso de ideologia como falsa consciência. Cabe ressaltar que a percepção da ideologia como falsa consciência não ocorre por uma relação mecânica, em que a base material determina a superestrutura, mas em razão da utilização das ideias como forma de impedir os trabalhadores de compreender as causas materiais que formam sua realidade.
Em qualquer tempo histórico, a classe que controla o sistema econômico procura desenvolver um conjunto de ideias que legitime seu controle. Produz, assim, representações da realidade que atendem a seus interesses e lhe permitem continuar a exercer seu domínio sobre as demais classes sociais. Dessa forma, as ideologias da classe dominante tendem a se tornar a representação da realidade de todas as classes. No exemplo dado, os trabalhadores passam a crer numa explicação que favorece manutenção das estratégias das classes dominantes, contribuindo para consolidação da forma de organização da economia que foi elaborada pelo detentores dos meios de produção.

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