Quando você pensa em politica, o que vem a sua
cabeça? Provavelmente algo relacionado ao governo as pessoas que administram a
cidade, o estado ou o país. Você talvez pense nas eleições, em candidatos, no
voto. E talvez tenha uma opinião desfavorável sobre a politica: muita gente,
quando ouve falar em politica, logo pensa em corrupção.
Mas você já pensou em quantas coisas boas na
sua vida foram conseguidas por lutas politicas? Por exemplo, hoje você pode
postar na internet uma frase como "Odeio todos os políticos, o governo é
corrupto". No Brasil, há menos de trinta anos, quem criticasse o governo
desse jeito poderia ser preso, torturado e até morto. Isso só deixou de ser
assim graças a um movimento politico forte que mudou a forma de o país ser
governado. E quem achar que outros problemas graves do Brasil podem ser
resolvidos sem politica está seriamente iludido
A Ciência Politica ajuda a entender como
funcionam o governo, as leis, os partidos, e tudo aquilo que influencia ou
regulamenta a vida de cidadãos como você e seus colegas.
POLITICA E PODER
O conceito fundamental da Ciência Politica e o
conceito de poder. A definição do sociólogo alemão Max Weber mostra que o
centro da atividade politica e a busca pelo poder. Segundo Weber, a política é a luta por participar do poder
ou influenciar sua repartição, seja em um Estado, seja entre os grupos de
pessoas dentro de um Estado, seja na relação entre Estados. Mas o que, afinal,
e o poder? Você já deve ter alguma ideia do que significa poder. Tem poder quem
manda quem é capaz de impor sua vontade sobre a dos outros.
Se um assaltante o ameaça com uma arma e lhe
ordena que entregue a ele seu dinheiro, você provavelmente obedecerá, mesmo
contra sua vontade Quando isso acontece, ele está exercendo do poder sobre você.
Se a policia interrompe a assalto e ordena ao ladrão que se renda, ele provavelmente
vai obedecer, mesmo não tendo nenhuma vontade de ir preso. Quando isso
acontece, os policiais exercem poder sobre o ladrão. Essas são formas de poder
razoável mente simples: alguém obriga outro al quem a fazer alguma coisa por
meio de ameaça de violência física.
Mas o poder com base apenas na ameaça de violência e frágil. O
ladrão só consegue mandar no pequeno numero de pessoas que mantem sob a mira de
sua arma. Para o poder se estabelecer sobre um grande número de pessoas por um
tempo razoável, é preciso que essas pessoas obedeçam mesmo quando não se veem
explicitamente ameaçadas de violência Imagine, por exemplo, se o governo
precisasse manter um policial armado acompanhando cada um de nós, o tempo todo,
para que cumpríssemos a lei. Dificilmente um governo como esse conseguiria se
manter por muito tempo.
Weber chamou a probabilidade de encontrar obediência em um grupo de pessoas de dominação. A dominação, para durar, precisa ser legítima: isto é, precisa, de alguma forma, convencer as pessoas de que é certo obedecer. Elas podem se convencer por motivos diferentes, Weber identificou três principais tipos de dominação legítima. Eles não são os únicos possíveis e, na prática, quase sempre se misturam em um processo de dominação. Os três tipos de dominação legitima, segundo Weber, são os seguintes:
· Dominação tradicional: é a dominação que se baseia no costume - quando se obedece porque "sempre foi assim" - ou em um hábito tão forte que nos pareceria estranho nos desviarmos dele. Muitas monarquias, por exemplo, foram e são legitimadas pela tradição: obedecer ao rei e a sua família já se tornou parte da maneira de viver de determinada sociedade, e os súditos achariam estranho viver de outro jeito. Em algumas religiões, é comum que os fiéis obedeçam ao líder espiritual porque esse comportamento já se tornou parte importante das crenças daquela religião.
Rei Abdullah, da Arábia Saudita, um exemplo de líder que tenta se legitimar como representante das tradições do país (no caso, as tradições religiosas).
Na Arábia Saudita, o rei é chamado de "Guardião das Duas Mesquitas Sagradas" (Meca e Medina, locais sagrados para a religião islâmica). O próprio nome do país deriva do nome de sua família, Saud. Foto de 2012.
· Dominação racional-legal: é a dominação que se baseia na crença de que correto obedecer à lei. Não porque a lei seja inspirada por ordem ou crença divina, ou porque se concorde com todos os detalhes de todas as leis, ou porque obedecer seja sempre do seu interesse, mas porque a lei deve ser cumprida. Para entender o que é a crença na lei, basta pensar no que consideramos, na sociedade moderna, um bom funcionário público. Um bom funcionário público deve ter conseguido seu emprego por competência técnica (demonstra da em concurso público), deve sempre seguir o que diz a lei: e deve aplicá-la igualmente a todos os cidadãos, sejam eles brancos, sejam negros, ricos ou pobres, da mesma igreja do funcionário ou não, do mesmo partido politico do funcionário ou não. Esse funcionário público corresponde ao ideal da dominação racional-legal.
Funcionário do Estado. Os funcionários públicos não podem ser indicados por alguém para os cargos que ocupam (exceto nos chamados cargos de confiança). Eles são aceitos no cargo após aprovação em um concurso público, no qual os candidatos são avaliados anonimamente O objetivo disso é garantir que a seleção considere a competência do candidato para a função, e não suas relações pessoais. São funcionários públicos, por exemplo, os juízes e os médicos dos hospitais públicos.
· Dominação
carismática: é a dominação que
se baseia na crença de que o líder político possui qualidades excepcionais,
dons extraordinários. Os liderados podem acreditar que o líder é inspirado por Deus,
ou que é excepcionalmente capaz de compreender o verdadeiro destino da nação. É
possível, a propósito, que os liderados estejam enganados - ou seja, que o líder
não tenha nenhuma dessas qualidades. Mas, enquanto o líder convencer de que as
tem, ele exerce poder sobre os liderados, muitas vezes inspirando-os a fazer
coisas que normalmente não fariam.
O carisma pode influenciar
multidões em favor das mu diversas causas. Na foto acima, de 1939, o ditador
Adolf Hitler, que governou a Alemanha entre 1933 e 1945. Hitler incitou o ódio contra
minorias, e seu governo causou a morte de milhões de pessoas. Na época, na Alemanha,
a vontade do Führer ['líder, em alemão] valia muito mais do que a lei. Na foto
ao lado, o pasto batista norte-americano Martin Luther King, em foto de 1965.
King inspirou milhões de negros nos Estados Unidos a combater as leis racistas
do sul do país e buscar a igualdade.
VOCÊ JÁ PENSOU
NISTO?
A quem você obedece? A seus pais, aos
professores, a um líder religioso, ao prefeito? Pense nos motivos que o fazem
obedecer a cada uma dessas pessoas. A quais delas você obedece por motivos
afetivos, a quais porque "e assim que as coisas são", a quais por
reconhecer que são competentes em determinada área? Você consideraria que há
abuso de poder em algum desses casos? Em caso afirmativo, você deixaria de
obedecer?
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Veja como as coisas são mais complexas do que
aparentam. Começamos este estudo vendo que o poder e a possibilidade de impor a
vontade. Quando concluímos que o poder que é só imposto não consegue se
estabelecer por muito tempo, descobrimos que aqueles que obedecem precisam de
motivos para obedecer. Esses motivos são muito mais complexos do que o medo da
violência: a dominação, para ser bem-sucedida, precisa respeitar as tradições
dos dominados, ou precisa oferecer-lhes a inspiração e o entusiasmo que uma
grande liderança é capaz de produzir ou precisa garantir a ordem segundo os princípios
da lei. Ou talvez precise oferecer as três coisas, ou ainda outras que Weber
não listou.
No final da história, os dominados não se
limitam a obedecer, eles têm valores, expectativas e exigências que impõem
limites a quem exerce o poder. O político que resolver ignorar completamente a
questão "Afinal, por que essas pessoas me obedecem?", corre o risco
de descobrir que, com o tempo, elas podem parar de obedecer.