Por que as diferenças sociais e culturais são, para muitas pessoas, sinônimo de desigualdades? No senso comum, por exemplo, o nordestino na maioria das vezes é associado ao analfabetismo, à ignorância etc. Negros e índios são associados a marginais ou selvagens. Mulheres são consideradas inferiores. Homossexuais, pessoas que apresentam anomalias “mentais” e “morais”.
Podemos dizer que essas ideias
representam visões etnocêntricas de mundo. Mas, o que significa mesmo o termo
“etnocentrismo”?
Bem, etimologicamente, “etno”
deriva do grego “ethnos” e se refere à etnia, raça, povo, clã. Assim,
“etnocentrismo” significa considerar a sua etnia como o centro ou o eixo de
tudo, a base que serve de referência ou o ponto de vista de onde se deve olhar
e avaliar o mundo ao redor. Estendendo essa definição, podemos entender o etnocentrismo como uma tendência a
considerar apenas os valores da própria cultura ao analisar as demais. Isto
significa dizer que as visões de um determinado grupo – política, econômica e
socialmente dominante em uma dada sociedade – são consideradas como o centro e
a referência de tudo. Tudo – inclusive outros grupos e indivíduos – é pensado e
sentido através dos valores, modelos e definições segundo o grupo dominante,
que seria a própria “representação” da existência humana.
Quando duas culturas se
encontram, pode ocorrer um choque
cultural, ou seja, de repente surge um “outro”, ou o grupo “diferente” que,
quase sempre, não age como o grupo dominante – ou, quando age, é considerado
estranho. Enfim, esse “diferente” é ameaçador porque pode ferir (afetar de
alguma forma) a nossa identidade cultural.
Então, se pertencemos ao grupo que apresenta os padrões culturais considerados
como “corretos”, “naturais”, não aceitamos que outro grupo tenha hábitos que
julgamos “estranhos”. Assim o grupo do “eu” faz da sua visão a única possível –
ou, mais discretamente, “a melhor”, “a natural”, “a superior”, “a certa”.
Em poucas situações, a atitude
etnocêntrica passa por um julgamento simples do valor da cultura do outro, nos
termos da nossa própria cultura, sem consequências mais sérias. Mas, na maioria
das vezes, a História da humanidade é repleta de exemplos onde o etnocentrismo
implica um julgamento do outro, na sua forma mais violenta. Por exemplo, julgar
um povo – como os indígenas ou os africanos – de primitivo ou bárbaro, pode
significar, socialmente e politicamente, como “algo a ser destruído” ou como
empecilho ao “desenvolvimento econômico” das nações.
O etnocentrismo formula
representações e imagens distorcidas sobre aquele que entendemos como
“diferente” de nós, sendo representações sempre manipuláveis como bem
entendemos. Além disso, no fundo, transforma a diferença pura e simples num
juízo de valor, perigosamente prejudicial à humanidade.
Etnocentrismo
Termo criado em 1906 pelo sociólogo americano
William Graham Summer (1840-1910) –, portanto, é a base explicativa
sociológica e antropologicamente dos preconceitos, discriminações, racismos,
homofobia, sexismo e estereótipos sobre os mais variados grupos, considerados
diferentes em comparação a um determinado padrão. |
Esclarecido isso, podemos
refletir sobre a nossa própria história: como sabemos, nossas sociedades
ocidentais americanas são herdeiras diretas da tradição europeia, branca e cristã,
que foi trazida pelos colonizadores e que predominou sobre outras culturas que
existiam anteriormente nas Américas.
Sabendo disso, perguntamos:
como se deu esse processo de conquista, não somente sob o ponto de vista social
e cultural, mas sob a perspectiva da visão de mundo desses colonizadores
europeus? Será que o desejo de riqueza não veio aliado a uma crença num estilo
de vida que excluiu as diferenças sociais e culturais?
Se pensarmos em termos de
História do Brasil, podemos verificar que nossa formação nacional foi marcada
pela eliminação física do “diferente” (indígenas) ou por sua escravização
(africanos). Da mesma forma, foi forjada uma verdadeira negação do “outro”,
também no que diz respeito aos seus pensamentos, suas ideias e seus mais variados
comportamentos.
Por exemplo, até algum tempo
atrás, na maioria dos livros didáticos de História, encontrávamos a ideia
distorcida de que os índios andavam nus, à época da chegada dos portugueses. Ora,
esse “escândalo exótico” esconde, na verdade, a nossa noção particular do que
deve ser uma roupa e o que, no corpo, deve-se mostrar ou esconder.
A mesma ideia se expressa
quando se diz que os povos indígenas cultuam deuses em formas de espíritos
ancestrais, animais, árvores etc., ou seja, eles eram animistas, com superstições
sem sentido. Aqui se esconde a visão de que só os ocidentais é que têm o deus
ou deuses certos e os “selvagens” não. Perguntamos: o que diriam muitos
indígenas na Amazônia se soubessem que nossas indústrias madeireiras derrubam
milhões de árvores para fazer papel, e que grande parte desse papel é jogado no
lixo? E mais: o que diriam eles, sabendo que a derrubada de árvores provoca um
desequilíbrio ecológico ameaçador para a própria existência humana? Deste ponto
de vista, não seríamos nós os “selvagens”, fazendo coisas sem sentido?
Bibliografia
OLIVEIRA, Luiz Fernandes de, 1968- 4. ed. Sociologia para jovens do século XXI : manual do professor / Luiz Fernandes de Oliveira, Ricardo Cesar Rocha da Costa. - 4. ed. - Rio de Janeiro : Imperial Novo Milênio, 2016.
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