domingo, 19 de abril de 2020

Livro - Sociologia em Movimento - Cap. 04 - O processo de socialização

Primeiras palavras
Dados disponíveis nos últimos censos (2000 e 2010) realizados pelo Instituto Brasil e de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o número de pessoas com deficiências saltou de 14.5% em 2000, para 24% em 2010 Em números absolutos, saímos de aproximadamente 25 milhões para 45 milhões em apenas uma década. O Aumento do número de pessoas deficiência coloca novas questões para o conjunto da sociedade. Afinal de que maneira pessoas podem se integrar a vida social? Como garantir o acesso delas a todos os instituições sociais que fazem parte do processo de socialização comum entre os indivíduos da nossa sociedade? Como deve ser sua inserção nas escolas e no mercado de trabalho?
Esses questionamentos se impõem porque se reconhecer que o pertencimento a esses espaços e instituições em importante para garantir o ajustamento social a autônomo na realização das atividades diárias. E compartilhando espaços e relaxes que ocorre o compartilhamento de comportamentos, normas e padrões sociais.
Como entender que seres humanos com os quais nos estabelecemos contato direto compartilham conosco opiniões comportamentos? Os estudos sociológicos sobre socialização nos ajudam a responder a essas indagações. A socialização é um processos que ocorrem em qualquer sociedade, e atua na conformação dos indivíduos. Há uma relação direta entre socialização, controle social ideologia no sentido conferido por Marx, ou seja, como sistemas de ideias que legitimam o poder das classes dominantes.


O processo de socialização
A Sociedade é uma construção humana. Entretanto, o ser humano também é resultado do meio social no qual esta inserida. Os Integrantes da espécie humana não conseguem sobreviver isolados nem se desenvolver sem a interferência de um grupo na formação de sua individualidade. A relação entre os indivíduos e a sociedade em que vivem é estudada pela Sociologia de acordo com o conceito de socialização. Esse conceito procura estabelecer os parâmetros análise do processo pelo qual a sociedade concebe os indivíduos, e os indivíduos, por sua vez, concebem sociedade. Podemos dizer, portanto, que a socialização é o processo de assimilação dos códigos e padrões culturais de um grupo social por parte dos diferentes indivíduos que o constituem, contribuindo para integrá-los. Esse processo se inicia no nascimento e continua por toda a vida, por meio do contato permanente de uns com outros.
A análise do processo de socialização como fase central da formação humana ganha importância cientifica com a obra História social da infância e da família (1973), do historiador francês Philippe Ariès (19741984), que estuda a construção social da família e da infância na modernidade. Ariès aponta que a caracterização da infância como fase especifica da vida, na qual o individuo recebe atenção especial, e uma ideia que surge apenas a partir do século XVIII.
Desde os primeiros contatos com o núcleo familiar, passando pela formação de relações de amizade, amorosas ou profissionais, os indivíduos são levados a estabelecer laços entre si. Constroem sua identidade e sua personalidade com base nesse processo ininterrupto, sempre influenciados pelos diferentes elementos presentes na vida social. Para Peter Berger, a socialização constitui a interiorização, pelos indivíduos, da realidade vivida, que é subjetiva, em um desenvolvimento que os integra aos grupos sociais dos quais fazem parte desde a infância. Isso ocorre por meio dos mecanismos de socialização pelos quais o mundo exterior molda o mundo interior dos indivíduos. Esses mecanismos são a aprendizagem, a imitação e a identificação.

Quem escreveu sobre isso 
Peter Berger: a socialização e um processo
que envolve aprendizagem, imitação 

e Identificação.

Peter Berger
 Peter Berger nasceu na Áustria, em 1929 Como muitos intelectuais europeus de seu tempo, estabeleceu-se nos Estados Unidos após o final da Segunda Guerra Mundial. Desde que publicou A construção social da realidade (1966), livro escrito em parceria com o sociólogo alemão Thomas Luckmann (1927), reconhecido como um dos mais importantes autores da Sociologia do Conhecimento.  Atualmente, desenvolve trabalhos na área da Sociologia da Religião, debatendo questões como a relação entre convicção religiosa e fanatismo e o lugar das religiões no contexto do relativismo pós-moderno. 
Socialização primária e secundária
Os mecanismos de socialização acontecem em dois níveis: a socialização primária e a socialização secundaria. Denominamos socialização primária os contatos caracterizados por alto grau de afetividade, que tem relações diretas e de forte próximo entre os integrantes, as interações face E nessa fase que os indivíduos internalizam suas experiencias e estabelecem, na maioria dos casos, relações sólidas e permanentes. Assim, tornam-se parte de um contrato social. Isso ocorre principalmente na infância a família é o melhor exemplo.

A socialização secundária pode ser entendida como a socialização iniciada do da infância e que continua pelo resto da vida. Nesse momento, a criança e introduzida em novas e diferentes realidades sociais, mais específicas, o que normalmente acontece nos espaços sociais fora da família nuclear, de forma mais dispersa. E o processo de socializa do que ocorre nos locais de trabalho, nos grupos de amigos, nas práticas esportivas em grupo Diferentemente da socialização primaria, os agentes do ai mais diversificados, sua atividade na adaptação do individuo ao grupo em questão está relacionada as escolhas e as situações sociais experimentadas pelos elementos envolvidos.
Atualmente, há um agente de socialização que exerce significativa influencia sobre esses processos os meios de comunicação de massa, capazes de causar impacto na formação dos indivíduos desde a primeira infância, por meio dos programas televisivos e da publicidade direcionados ao público infantil.

Agentes de socialização
Os agentes de socialização são responsáveis pela implementação efetiva dos mecanismos de socialização, como família, escola e diferentes grupos sociais. A partir do século XX também os meios de comunicação de massa podem ser incluídos nesse grupo, em muitos casos rivalizando com outros agentes, em especial a escola e a família. No século XXI, a difusão das tecnologias da informação e a expansão das redes sociais online ampliaram moleque de agentes de socialização.
As instituições sociais determinam as diferentes maneiras pelas quais os indivíduos são moldados no decurso de sua socialização Por instituições sociais entende-se o conjunto relativamente estável de padrões culturais estabelecidos coletivamente e que serve como modelo para a construção da personalidade e das ações dos indivíduos.
No sentido sociológico, instituição social não implica necessariamente numa estrutura material nem organização formal, mas, sim, em um padrão amplamente aceito o aço que tenta atender as necessidades criadas pelos agrupamentos humanos ao long do tempo. O casamento é um exemplo de instituição social, pois é uma forma 3000 mente reconhecida de relacionamento entre indivíduos que supre as necessidades sociais (reprodução e construção de um ambiente de socialização primaria) e apresenta caráter normativo (regras, como monogamia, idade minima e proibição de casamento entre membros da família nuclear).
No processo de aprendizado e interação com tudo aquilo que nos cerca surgem diferentes características condicionam nossos pensamentos ações e desejos individuais, alem de estabelecer vínculos entre quem somos e os grupos dos quais fazemos parte. Por isso, os processos de socialização também são fundamentais para definição das identidades sociais. Afinal, as maneiras pelas quais interiorizamos as formas e os padrões culturais presentes em nossa sociedade estão diretamente relacionadas com a identificação consciente dos valores, das praticas e dos saberes que acolhemos ou rejeitamos o longo da vida.

Grupos, instituições e categorias sociais
Para estudarmos os grupos sociais é importante, em um primeiro momento, diferenciá-los das instituições sociais. Ainda que ambos estejam relacionados, os grupos sociais se estabelecem por meio de interesses, praticas e valores compartilhados por dois ou mais indivíduos, enquanto as instituições sociais se referem a padrões e normas que se aplicam aos diferentes grupos existentes em uma sociedade.
Nesse sentido, a família é a primeira instituição social com a qual temos contato (cumpre o papel de transmitir padrões gerais de relacionamento dos laços de parentesco hábitos e costumes socialmente compartilhados). Da mesma maneira a escola é responsável pela transmissão de padrões de relacionamento com grupos aos quais inicialmente não pertencemos, do aprendizado de códigos e linguagens sociais e da pratica dos valores necessários para a vida em comum. A religião, por sua vez, transmite padrões morais socialmente aceitas, além de modos de refletir sobre a morte e temas transcendentais.
Ao longo da vida, os membros de uma sociedade se inserem em grupos sociais distintos. As tribos urbanas são exemplos de grupos sociais. As famílias (como conjunto de pessoas, algo diferente do conceito de instituição social), os estudantes e os trabalhadores de determinada empresa são também exemplos de grupos sociais, constituídos pela adesão dos sujeitos a certas formas comuns de ação, que os integram a uma coletividade especifica.
Os grupos sociais estão diretamente relacionados aos processos de socialização primários e secundários. Dessa maneira, podemos classificá-los de acordo com o processo de socialização no qual se estabelecem. Os grupos sociais primários são aqueles em que as relações sociais se caracterizam pela proximidade e pela interação direta. Seus integrantes - um pequeno grupo de indivíduos - desenvolvem sólidas relações de identificação uns com os outros.
Os grupos sociais secundários são aqueles em que as relações se pautam pela impessoalidade, sustentadas por regras e normas formas de organização. As relações de identificação são menos sólidas, e a convivência ocorre por um tempo menor do que nos grupos primários. Podem ser, por exemplo, grupos formados por muitas pessoas que se conhecem apenas superficialmente, como o conjunto dos alunos de uma universidade.
Existem também grupos sociais intermediários Trabalhadores de uma mesma categoria profissional ou de uma empresa, que atuam nos mesmos locais de trabalho, estabelecendo uma convivência prolongada e compartilhando experiencias sociais semelhantes, tendem a desenvolver laços sociais similares aqueles encontrados nos grupos sociais primários. Nesse caso, estamos diante de um grupo social intermediário, que combina características tanto dos grupos primários quanto dos secundários Os professores de uma escola ou os membros de uma equipe desportiva que convivem por longos períodos de tempo podem ser um exemplo de grupos sociais intermediários.
A vida social nas sociedades contemporâneas possibilita que a experiência em diferentes tipos de grupos sociais aconteça, às vezes, no mesmo espaço. Por exemplo quando um estudante passa a frequentar uma escola, ele estabelece tipos distintos relações com outros estudantes. Com alguns deles, pode criar laços que vão além do própria escola, partilhando referências, comportamentos e identificações sólidas que permanecem por longo tempo (grupo social primário). Com outros, pode estabelecer relações sociais momentâneas, como a realização de uma atividade de pesquisa ou conversas informais no pátio da escola (grupo social secundário). E com outros, ainda, pode estabelecer relações sociais que sejam sólidas e duráveis (como gostar das mesmas disciplinas, participar constantemente das mesmas atividades), mas que estejam limitadas pela condição de estudante (essas relações são construídas por demandas, interesses e necessidades vivenciados no espaço escolar), caracterizando um grupo social intermediário.

Outra característica das sociedades contemporâneas é a existência de grupos de pessoas que realizam ações atividades iguais sem estabelecer laços diretos entre si, como consumidores de uma loja de departamentos ou trabalhadores em busca de um novo emprego Nesses casos estamos diante de categorias sociais que para a Sociologia, são formadas por indivíduos que vivem experiências semelhantes, porém não estabelecem relações sociais diretas uns com os outros Os estudantes de uma rede municipal ou estadual de ensino, por exemplo, formam uma categoria social.

Interação social
Na vida em sociedade, um elemento central para a construção de cada sujeito é sua interação social ou o modo pelo qual ele estabelece relações com os outros indivíduos e grupos sociais. Por interação social entende-se o conjunto jeans influencias reciprocas desenvolvidas entre os indivíduos e entre estes e os grupos sociais. Todo processo de socialização ocorre em um contexto de interação social.
Para o sociólogo alemão Georg Simmel a sociedade resulta das interações sociais estabelecidas entre os indivíduos. No entanto, para que elas formem a sociedade, seu conteúdo precisa estar representado seguindo um conjunto de parâmetros que orientam as diferentes maneiras de interação. Esses parâmetros formam a base sobre a qual as interações sociais se desenvolvem Por exemplo, um grupo de amigos resolve criar um time de futebol amador no bairro onde mora. Como e um time amador, não esta necessariamente sujeito as regras oficiais do futebol. No entanto, para que a iniciativa produza o efeito desejado, eles tomam como parâmetro, ou modelo, as equipes de futebol existentes na sociedade.
As formas de interação se repetem embora seu conteúdo possa variar Os diferentes modos interação social, como a cooperação, a competição e conflito, slo padrões estáveis, ainda que possam manifestar seu conteúdo tanto no trabalho doméstico quanto nas atividades escolares (cooperação), nos esportes e nos concursos (competição): ou mesmo nas relações entre patrões e empregados ou fazendeiros e trabalhadores rurais sem-terra (conflito).

 Quem escreveu sobre isso
Georg Simmel: "Diante da mobilidade de
conhecer totalidade dos processos sociais
estudos sobre seus fragmentos  detalhes
podem leva à compreensão do todo”.
Georg Simmel Georg Simmel 18581918 foi um ativo sociólogo alemão que publicou ao longo da vida cerca de 25 Livros e mais de 300 ensaios sociológicos sobre os mais variados temas Apesar de sua produtividade e da qualidade de seu trabalho, foi ignorado por muitos acadêmicos contemporâneos. Seus estudos foram importantes para a microssociologia, uma análise dos fenômenos no âmbito das interações diretas entre as pessoas.
Entre seus muitos trabalhos é possivel destacar A filosofia do dinheiro (publicado em 1900), A metro pole e a vida mental (1903) e Questões fundamentais de Sociologia (1917).


Para o sociólogo canadense Erving Goffman, a interação social e realizada su as posições e os papéis executados por atores e grupos sociais e ocorre nas chama situações sociais, em um ambiente histórica e espacialmente definido. Nesse conte há uma serie de rituais que ordenar e orientam as relações sociais, permitindo aos dividuos e aos grupos se identificarem e serem identificados e monitorados por forms de agir de falar e de responder as diferentes situações sociais.
Uma das tarefas da socialização e a percepção, por parte dos individuos e grupos, da necessidade de adotar condutas reconhecidas socialmente no processo de interação social Quando comparecemos a uma festa de aniversário, independentemente da proximidade que tenhamos como aniversariante, estamos conscientes de que determinadas condutas devem ser adotadas naquele momento. Do mesmo modo, em cada ambiente ou situação social, adotamos comportamentos que supomos serem os esperados, os quais variam quando estamos em casa, em uma cerimônia de formatura ou em um velório.

Quem escreveu sobre isso
Erving Goffman integrou, em seus trabalhos, uma serie
de autores provenientes de diversas tradições intelectuais,
 no periodo em que os diferentes modelos explicativos
existentes nas Ciencias Sociais tendiam a manter certa
distancia entre si.

Erving Goffman Erving Goffman (1922-1982), sociólogo canadense, contribuiu de maneira signi ficativa para a teoria sociológica como desenvolvimento do interacionismo sim bólico, criado de acordo com a análise dramaturgica das interações sociais cotidianas Desenvolveu importantes estu dos sobre a construção das identidades sociais do estigma e das formas de inte razão social tanto na vida cotidiana quanto no que chamou de instituições totais, como manicômios e prisões.
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