terça-feira, 28 de abril de 2020

Movimentos sociais: feminismo(s) e LGBT

No senso comum, é possível escutar que o feminismo é o contrário do machismo seria: uma tentativa de impor o poder das mulheres por intermédio da força ou das ideias feministas. Nada mais equivocado. Em primeiro lugar, o feminismo nasceu de um movimento de igualdade e não de superioridade. Em segundo, o mais correto seria falar feminismos, no plural, tendo em vista as diversas concepções e debates que marcam essas teorias.


Para os historiadores, as origens do feminismo dental podem ser situadas no século XIX. Segundo a historiadora canadense Marlene LeGates (1943), falar em feminismo antes desse século cometer um anacronismo, pois, embora existissem mulheres e homens preocupados com opressão masculina, o feminismo como movimento social e corrente de pensamento ainda não havia se organizado.
Alguns historiadores se referem a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, de 1791, redigida por Olympe de Gouges (1748-1793), para lembrar como o feminismo tem origens remotas. Olympe de Gouges foi uma escritora francesa, considerada uma pioneira do feminismo, que morreu executada pelos jacobinos, em 1793, por causa de suas opiniões. No entanto, ao se falar das origens do feminismo, normalmente se faz referência a chamada primeira onda, que seria constituída pelos primeiros movimentos organizados por mulheres no século XIX, em países ocidentais, em torno de inúmeros direitos, principalmente o direito ao voto.

Historiadora brasileira Celi Regina Pinto lembra que no Brasil as primeiras feministas também se organizaram em torno dos direitos políticos: lideradas por Bertha Lutz (1894-1976) e pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, conquistaram, em 1932, o direito ao voto. No inicio do seculo XX, tanto no Brasil quanto na Europa, houve o crescimento de organizações operárias feministas, de influência anarquista ou socialista, assim como de organizações de mulheres de classe média, como associações e clubes.
O feminismo sempre se combinou com lutas democráticas em todos os lugares do mundo. Assim, nos movimentos socialistas e operários do seculo XIX, tal como nos movimentos anarquistas, foram inúmeras as organizações de mulheres e lideranças feministas em várias fábricas e no campo. O Dia Internacional das Mulheres, por exemplo, nasceu da iniciativa da líder socialista alemã Clara Zetkin (1857-1933), que propôs em uma Conferência Socialista a adoção do 8 de março para celebrar essa data.
A organização de associações e movimentos feministas diferiu no que concerne não apenas a classes sociais, mas também a termos raciais.
As feministas negras do pós-colonialismo afirmaram que feministas brancas se organizaram em torno de lutas para que tivessem empregos e carreiras, assim como o reconhecimento como cidadãs, sem, no entanto, atentarem para o fato de que as mulheres negras continuavam a ser penalizadas tanto pelo sexismo quanto pelo racismo, não usufruindo das conquistas do feminismo branco. Esses novos feminismos salientavam também que a situação da mulher rica e de classe média não podia ser igualada a de mulheres negras, indígenas ou de países colonizados, tendo em vista que estas últimas, o problema não era a monotonia de ser "dona de casa", mas o trabalho pesado, a discriminação (racial e de classe) e a transformação de seu corpo em objeto, que as tomavam vitimas comuns de crimes sexuais.

As modificações nas sociedades ocidentais após as guerras mundiais do século XX levaram a mudanças também no feminismo. Nos anos 1960, surgiu a chamada segunda onda feminista, em que as reivindicações das mulheres passaram a se dirigir ao mercado de trabalho, a divisão de tarefas familiares e aos direitos reprodutivos. Nesse mesmo período porém, abriram-se divergências no próprio feminismo, o que resultou na criação de diferentes correntes: o feminismo liberal, o feminismo radical, o feminismo negro e o feminismo socialista. Essas divergências não significaram uma decadência do movimento, muito pelo contrario: as correntes do feminismo progrediram graças ao desenvolvimento teórico e filosófico bastante avançado, que permitiu que a pluralidade de situações em relação mulheres fosse contemplada, e as lutas sociais fossem ainda mais precisas e eficazes.
O feminismo liberal é aquele ligado as questões de maior igualdade nos contextos institucionais. Sem dúvida, foi importante para assegurar leis e conhecimentos jurídicos para as mulheres assim como para cobrar do Estado a criminalização do estupro e outros crimes relacionados a mulher.
O feminismo socialista e marxista desenvolve-se hoje no campo teórico, criticando o caráter de classe do feminismo europeu e ressaltando a luta das mulheres operárias e camponesas para demonstrar que o feminismo poderia ter caráter revolucionário. Ressaltam a importância das mulheres na luta revolucionaria, enfatizando a destruição do capitalismo como condição prévia para a destruição do patriarcado.
Slogan "Mulheres de todo o mundo, uni-vos" faz alusão direta a bandeira socialista do Manifesto Comunista. Na foto, mulheres desfilam na Quinta Avenida, em Nova York, nos Estados Unidos, em 1970, para comemorar o 50º aniversário da aprovação do voto feminino naquele país.
O feminismo negro e pós-colonial ressalta a luta das mulheres tornadas invisíveis pelo feminismo branco: as lutas anticoloniais na Asia, nas Américas e na Africa, assim como as lutas operárias das quais as mulheres foram protagonistas. Esse feminismo muitas vezes se alinhou ao socialismo, ao marxismo e aos movimentos revolucionários, mas também encaminhou lutas para a conquista de direitos civis, principalmente.
Embora criticado por todas as outras correntes do movimento feminista, o feminismo radical é que vai apresentar a sexualidade como tema central para a compreensão dos padrões e das discriminações em torno dos gêneros. As feministas radicais argumentam que a diferença mais importante entre homens e mulheres esta na reprodução, e, portanto, é a família, como núcleo reprodutor, que representa a base de opressão das mulheres. Nesse sentido, os direitos sobre o corpo, que incluem a defesa do aborto, a separação entre a sexualidade e a procriação e a abertura para as diferentes sexualidades, são as pautas principais do feminismo radical.

O feminismo radical influenciou as teorias pós-estruturalistas e Queer que compõem a terceira onda do feminismo, iniciada nos anos 1980, sendo também influenciado por elas. Esse é um dos momentos mais efervescentes do feminismo, pois os movimentos de gays e trans transformaram as concepções clássicas sobre sexualidade e política, apresentando o tema da orientação sexual como base de novos movimentos políticos e sociais.
A ideia de uma orientação sexual oposta à da expectativa da sociedade era motivo de aversão, sendo tratada como distúrbio psíquico, fisiológico e moral. Os homossexuais eram marginalizados na sociedade (e ainda são em muitos contextos), e seus espaços de sociabilidade e interação ficavam restritos a bares, tabernas e cubes Secretos, que constantemente eram alvo de investigação e repressão policial. Em 28 de junho de 1968, frequentadores do bar Stonewall Inn, em Nova York, enfrentaram uma ação policial no que se tornou um evento emblemático e um marco na luta pelos direitos e reconhecimento do "orgulho gay". A década de 1960, de maneira geral, representou um momento marcante de contestação dos costumes, tanto no âmbito politico quanto no cultural, simbolizado pelos protestos contra a guerra do Vietnã, o movimento de maio de 1968 na França, os movimentos hippie e feminista.
Apesar das mudanças trazidas pelos movimentos de contracultura, as décadas seguintes foram de estigmatização e discriminação em virtude do surgimento da epidemia de HIV/ Aids, quando, com base no discurso cientifico e também religioso, a orientação sexual foi associada diretamente a doença. A ideia de homossexualidade e doença persistiu durante muito tempo. O próprio termo homossexualidade não existia, sendo utilizada a categoria homossexualismo, que pressupõe problemas patológicos. No século XIX e ao longo de parte do seculo XX, a homossexualidade aparecia na classificação de doenças e somente em 1990 foi retirada da lista internacional da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 1985. no Brasil, antes mesmo da retirada da lista, o Conselho Federal de Psicologia já não a considerava uma patologia.
A partir da década de 1990, com o controle da epidemia de Aids e o maior envolvi mento de organizações governamentais e não governamentais, já se percebe uma rearticulação dos movimentos de direitos civis e de combate a discriminação e a homofobia. Essa reorganização do movimento trouxe reflexões importantes, como a descentralização da homossexualidade masculina, dando visibilidade a lésbicas, bissexuais, travestis, transsexuais e transgêneros.
Hoje, varias passeatas e diferentes vertentes do movimento se organizam para resistir aos constantes problemas enfrentados e também para divulgá-los, seja na questão da violência, seja na restrição dos direitos de cidadania. No Brasil, em 2011 algumas conquistas foram asseguradas pela decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o reconhecimento da união estável em famílias homoafetivas. Com essa deliberação, inúmeros direitos foram conquistados e equiparados aos dos casais compostos por homem e mulher: a comunhão parcial de bens, as pensões alimentícias e do INSS, a inclusão de dependentes nos planos de saúde e no imposto de renda, entre outros. Apesar das conquistas, ainda há muitos objetivos no horizonte do movimento LGBT, como as lutas pela criminalização da homofobia e pelo estabelecimento de políticas públicas que promovam a inclusão da população LGBT nos projetos de combate às desigualdades.
 Atualmente, os movimentes LGBTQ+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, Queer e outros) e o feminismo procuram unir suas lutas, mantendo divergências e desenvolvendo percepções politicas e teóricas novas com certa frequência. Entre as teorias mais debatidas no Brasil atualmente, estão a teoria Queer, assim como o transfeminismo, movimento que tem sido marcado pela união do feminismo com os movimentos em defesa das mulheres trans. O ecofeminismo também vem ganhando espaço, especialmente na Índia e nos Estados Unidos. Essa corrente, que se originou de causas ambientais e indígenas, teve certa repercussão no Brasil por meio de estudos científicos, mas com pouca influência nos movimentos sociais.

domingo, 26 de abril de 2020

Livro Sociologia em Movimento - Cap. 04 - O controle social

Status e papéis sociais
Nas diversas esferas da sociedade e nos diferentes processos de interação, grupos e indivíduos ocupam posições sociais associadas a diferentes graus de prestigio, poder, direitos e deveres. Na Sociologia, essa condição e denominada status. Todos os membros de uma sociedade ou grupo social possuem uma ou mais posições de status. Por exemplo, em uma empresa, patrões, diretores e empregados ocupam lugares distintos na hierarquia. Portanto, possuem status diferenciados. A cada posição estão relacionados nos diversos níveis de prestigio, responsabilidade, privilégios etc. Quando alguém muda sua posição na hierarquia, seu status também se modifica, de acordo com a nova situação ocupacional.
O status pode ser percebido de acordo com a posição ocupada na sociedade e na estrutura social por indivíduos e grupos, podendo ser legal (quando determinado por leis e normas), social (quando não depende da legislação ou é estabelecido a margem dela) adquirido (quando a posição de status está relacionada ao mérito pessoal) ou atribuído (quando a posição de status designada por outrem).

A cada posição de status é atribuída uma maneira especifica de agir e de se relacionar na vida social. Estamos diante do que a Sociologia denomina papéis sociais. São os comportamentos socialmente esperados de indivíduos e grupos em determinada posição de status. Por exemplo, quando um professor entra na sala de aula, os alunos esperam que ele cumpra certa rotina, socialmente definida. Apesar das diferenças quanto ao modo de conduzir as aulas e de se relacionar com os alunos, ha um conjunto de procedimentos esperado dos professores. Por sua vez, o professor, mesmo ciente das diferenças entre os alunos, tem uma expectativa sobre o que eles devem fazer ou sobre como devem reagir as estratégias pedagógicas utilizadas. No caso, tanto os professores quanto os alunos cumprem um papel social relacionado à posição de status de que desfrutam em certo momento. Ao chegarem a suas casas, após as atividades na escola, estarão em outra posição de status e, consequentemente, exercer outros papéis sociais.

 
O exercício de papéis sociais não pode ser analisado separadamente das posições de status com as quais as pessoas se relacionam. Um mesmo status pode envolver diferentes papeis sociais. No caso de um estudante, sua posição de status comporta papéis sociais como aluno, colega de turma ou amigo, mantém o mesmo status de estudante, mas tem diferentes obrigações e atribuições conforme o ator social com o qual interage.

Controle social
Nas relações sociais, um dos elementos importantes é a possibilidade de prever as ações dos sujeitos com alguma segurança. Essa previsibilidade depende do conjunto de normas que orientam o grupo e da adesão dos membros desse grupo as normas. Tal possibilidade é essencial para a cooperação, manutenção e preservação do grupo social. Por meio dessas normas, que podem ser formais (como as leis) ou informais (como as regras de conduta amplamente aceitas, mas não regulamentadas), o comportamento humano (individual ou coletivo) é orientado para certa conformidade aos padrões permitidos em qualquer sociedade ou grupo social, isto é, estabelecendo as condições para manter a ordem social. Os mecanismos pelos quais se garante conformidade a ordem social constituem um conjunto conhecido como controle social.
O controle social compreende os mecanismos que delimitam as ações e as interações sociais seguindo parâmetros previsíveis, incorporados pelos indivíduos por meio da socialização. Pode ser analisado por duas perspectivas: uma percebe as relações sociais orientadas para uma harmonia funcional, visando ao desenvolvimento coletivo, outra entende essas relações como marcadas pela contradição que estabelece os conflitos sociais, econômicos e políticos que movimentam a sociedade ao longo da história.
A primeira interpretação, derivada da abordagem funcionalista de Durkheim sobre a importância das regras e normas para a coesão social, indica que esse controle deveria garantir harmonia social. Assim, o controle social seria constituído de estruturas materiais e simbólicas que conformam os indivíduos ao sistema social, prevendo punição para os casos em que isso não ocorresse.
Uma agremiação exerce controle social sobre seus membros principalmente pelo processo de socialização. Esse mecanismo que consolida determinado modo de organização coletiva, induzindo e mantendo a conformidade das pessoas a padrões, papéis sociais, relações e instituições valorizados pela cultura.
Outra abordagem para o mesmo fenômeno parte do principio de que as relações sociais e a realidade derivada delas são constituídas por contradições que, em vez de gerar um todo social harmônica, levam ao conflito. Em uma crítica às teorias focadas na ordem e na harmonia social, esse modo de perceber o controle social, visto na tradição sociológica de Karl Marx e Max Weber, faz crer que os mecanismos ou recursos que compõem o controle social estão relacionados a defesa dos interesses de grupos específicos que detém o controle econômico, cultural e político. Interesses antagônicos dos diferentes grupos determinariam os conflitos que dão forma a realidade social como a percebemos, e não um desequilíbrio ou patologia (isto é, o desvio do que é considerado normal) uma sociedade supostamente harmônica, da qual não consta nenhum registro na história das sociedades.
Nessa abordagem o controle social está relacionado a ideologia e se dá em diferentes instituições sociais. Quando interpretadas como meios de controle ideológico, as instituições sociais não só representam uma vontade coletiva construída nas interações sociais, mas também uma maneira de transformar em comportamento-padrão uma visão de mundo particular de determinado grupo que procura manter sua posição de domínio. A reprodução dos interesses particulares de um grupo ou classe social mediante processos de socialização dos demais grupos e classes impõe os valores específicos dos que detém poder, mesmo se contrários aos interesses dos demais, como se fossem valores coletivos a serem aceitos como normais. O processo de socialização resulta na internalização de tais valores e normas sociais pelos indivíduos, subjetivamente, fazendo com que cada um seja convencido de que é melhor obedecer a elas. Isso legitima as relações de poder ou de dominação.
Como vimos no inicio do capitulo, o modo como agimos na sociedade está intimamente relacionado ao nosso processo de socialização. Vimos ainda que todas as sociedades criam formas estáveis de interação entre os indivíduos. O que garante essa estabilidade são os diferentes agentes e mecanismos de controle social.

Mecanismos de controle social
Para as Ciências Sociais, mecanismos de controle social são todos os elementos sociais (estruturas, padrões culturais, status, atos, instituições) que têm como objetivo conduzir o conjunto das ações individuais para limites relativamente previsível. Por exemplo, as regras de conduta de uma empresa estabelecem limites previsíveis para os empregados. Com esse parâmetro, qualquer comportamento fora do padrão e imediatamente identificado e os patrões podem exercer coerção sobre os indivíduos que desviam a fim de garantir a ordem habitual. Portanto, a internalização de determina formas de conduta por parte dos indivíduos permite a realização de ações coordenadas e espontâneas de grande porte, que vão desde atividades industriais até eventos o situações de lazer, passando por estabelecimentos de ensino e instituições militares. A realização de eventos de grande porte que envolvem milhares de pessoas sem a ocorrência de incidentes relevantes só é possível quando a maioria dos participantes segue um padrão previsível de conduta.

Os mecanismos de controle social podem ser legais (quando organizados em leis, normas e outras formas de expressão legal) ou sociais (quando existem apenas como norma social coletiva, sem previsão legal). Por exemplo, a legislação exige que em determinados lugares (presídios, quartéis tribunais) se utilizem vestimentas especificas, como uniformes outros trajes. Quem não segue a legislação prevista sofre sanções legais (advertência, e suspensão, retirada do local). Entretanto, há formas de se vestir sancionadas socialmente mesmo sem previsão na lei. Vestir-se de modo considerado inadequado por um grupo social implica olhares de reprovação e zombarias, eventualmente até exclusão do grupo. Nesse caso, está em curso um mecanismo social de controle que delimita como os indivíduos devem se vestir.

Agentes de controle social
Os Agentes de controle social são os mesmos que realizam o processo de socialização. A família, a escola, o Estado, a religião e os meios de comunicação de massa são considerados os principais agentes de controle social, já que cabe a eles assegurar a conformidade do comportamento das pessoas a um conjunto de regras e princípios prescritos e aprovados nas sociedades.

Em nossos dias, os meios de comunicação de massa são agentes de controle social bastante eficazes, seja por difundirem modelos de comportamentos e adequação social por meio de sua programação, seja por exercerem o papel de fiscalização das normas e regras sociais. Em um filme ou em uma novela, por exemplo, autores e diretores não se limitam a apontar modos de comportamento social, mas também definem quais comportamentos são adequados e quais são inadequados. O tradicional conflito entre o bem e o mal, tipico dessas formas de expressão artística, produz determinada maneira de olhar e conceber o mundo. Socialmente, isso significa que se associam aos ideais e ao comportamento dos “mocinhos” valores positivos e desejáveis, em contraposição ao comportamento que se deve condenar e evitar, praticado pelos "vilões".
Influenciados por essa dicotomia desde a infância, também reproduzida nas histórias infantis, os indivíduos passam a adotar certo posicionamento nas ações cotidianas. A repetição de modelos serve como elemento formador e também delimitador de comportamentos aprovados ou condenados pela sociedade.

Aparelhos repressivos e ideológicos de Estado
O filosofo franco-argelino Louis Althusser dividiu os agentes de controle social em dois blocos: o de aparelhos repressivos de Estado e o de aparelhos ideológicos de Estado. De acordo com o estudioso, os primeiros compreendem o conjunto órgãos e instituições que estabelecem o controle social por meio da repressão possibilidade de realizá-la, como as Forças Armadas a policia e o sistema judiciário.
Os aparelhos ideológicos de Estado são as instituições que estabelecem o controle social pela difusão de determinadas ideologias e atendem aos interesses daqueles que detêm o poder. Mais difundidos na sociedade contemporânea que os aparelhos repressivos, os aparelhos ideológicos de Estado seriam representados, entre outros, pelas religiões, pela escola, pela família, pelos sistemas de informação e pela cultura. Essas instituições são o veículo para que a ideologia dominante possa se difundir socialmente e possibilitar o controle social pelas classes dominantes. Cabe ressaltar que para Althusser, nenhum aparelho e somente repressivo ou ideológico, pois as dua características estão presentes em todas as instituições, e a classificação depende de sua principal forma de ação.

Quem escreveu sobre isso
Filósofo franco-argelino, Louis Althusser referência
nos estudos marxistas sobre ideologia considerado
o pai da perspectiva critico-reprodutivista, que influenciou
 intrectuais como Pierre Bourdieu e jean-Claude Passeron
.
Louis Althusser
Nascido na Argélia, Louis Althusser (1918-1990) foi um pensador humanista que se dedicou ao estudo das ideologias. Em um de seus trabalhos mais conhecidos, Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado, articulou marxismo e psicanalise para caracterizar a ideologia como uma relação imaginária que, convertida em práticas concretas, reproduz as relações de produção vigentes em dada sociedade. Para o autor, a escola e um aparelho ideológico do Estado que contribui para a sustentação da ordem social e política burguesa.


A perspectiva desenvolvida pelo autor é pessimista em relação capacidade de ação autônoma do individuo diante do controle exercido pelas classes dominantes. A escola, por exemplo, é vista por Althusser como o aparelho ideológico de Estado mais significativo da sociedade contemporânea. Todas as características da sociedade capitalista se reproduzem no espaço escolar, tanto do ponto de vista ideológico quanto do repressivo, nas diferentes relações sociais estabelecidas pelos atores sociais.
Essa posição, no entanto, é contestada pelo fato de pressupor um domínio completo das estruturas sobre os indivíduos. O cientista politico Carlos Nelson Coutinho critica Althusser por seu esquecimento da história e por seu entendimento das estruturas como elemento absoluto da formação social. Em sua crítica, Coutinho denuncia o abandono da discussão sobre o papel dos indivíduos na história e a capacidade destes de transformá-la.

Quem escreveu sobre isso
O professor Carlos Nelson Coutinho, cientista
politico baiano reconhecido Internacional-
mente por sua análise  da obra  de Gramsci.
Carlos Nelson Coutinho 

O filósofo, cientista politico e critico literario Carlos Nelson Coutinho (1943-2012) foi um intelectual marxista de grande influência no Brasil. Professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), teve papel importante na construção de uma teoria politica no Brasil, em particular na crítica ao estruturalismo marxista e na defesa da democracia como valor universal.


Saiba mais 
Sociedade disciplinar 
O filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) tornou-se celebre por seus estudos sobre a relação sociedade, poder e individuo. Suas críticas a Psiquiatria, ao sistema prisional e outras instituições sociais, como as escolas e os quartéis assim como seus estudos sobre sexualidade e subjetividade, fizeram dele um dos mais prestigiados pensadores do século XX. Professor titular de História dos Sistemas de Pensamento no College de France, Foucault vê as sociedades modernas e suas instituições disciplinares e hierárquicas, dotadas de uma tecnologia politica que visa tornar corpos disciplinados e controlar o espaço, o tempo e as informações.
O filosofo francês Michel Foucault é referencia
nos estudos sobre as sociedades disciplinares
Para o autor, sociedades disciplinares estruturam modelos de controle social que articulam diferentes técnicas de segregação, monitoramento e vigilância, as quais perpassam a vida social por meio de uma cadeia hierárquica oriunda de um poder central. Foucault desenvolveu estudos sobre a escola e ideias pedagógicas na Idade Moderna, identificando-as como instrumentos de controle e dominação que visam suprimir ou conformar os comportamentos divergentes. Sua percepção das sociedades disciplinares foi diretamente influenciada pela teoria do panoptismo, proposta no seculo XVIII pelo filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham (17481832).


Quem escreveu sobre isso
Bastante influenciado por Louis Althusser, Jean Claude
 Passeron levantou importante questões no livro A reprodução,
escrito em parceria Pierre Bourdieu.
Jean-Claude Passeron 
Jean-Claude Passeron (1930-) é um filósofo e sociólogo francês que, com Bourdieu, publicou duas obras clássicas sobre Sociologia da Educação: Os herdeiros (1964) e Reprodução (1970). Ex-professor da Universidade de Nantes e atualmente professor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, nos anos 1970 também publicou com Bourdieu e Jean-Claude Chamboredon a obra clássica O ofício de sociólogo. Sua obra prima, contudo, é Raciocínio sociológico (1991), na qual, baseado em Weber, resgata a dualidade entre Ciências Naturais e Ciências Sociais, reconhecer o caráter histórico dassas últimas.

Panoptismo
O termo "panoptico" foi utilizado por Jeremy Bentham para referir-se a uma unidade penitenciária idealizada por ele em 1791. Esse tipo de projeto arquitetônico permite que um vigia observe os prisioneiros sem que estes saibam se estão ou não sendo vistos. Também pode ser utilizado em manicômios, escolas, fábricas e hospitais. Imortalizada por Foucault em sua obra Vigiar e punir (1975), a teoria do panoptismo tem sido resgatada por teóricos das novas tecnologias, como Pierre Lévy, para referir-se ao controle exercido pelos novos meios de comunicação sobre seus usuários.

Quem escreveu sobre isso
O sociólogo francês Pierre Bourdieu foi o
criador do "estruturalismo construtivista”.

Pierre Bourdieu
 Pierre Bourdieu (1930-2002) foi um sociólogo francês que construiu sua obra referenciado em autores clássicos como Max Weber e Karl Marx. Em seu "estruturalismo construtivista" Bourdieu argumentava que o mundo social é composto de estruturas objetivas que constrangem a atuação dos indivíduos, sendo incorporadas, legitimadas e produzidas por eles. Bourdieu buscou realizar uma "Sociologia da Sociologia", ou seja, uma in investigação sociológica sobre a formação e a atuação dos sociólogos.

Meios de comunicação e tecnologias da informação
Percebe-se que, paralelamente a influência dos meios de comunicação sobre a sociedade, surgem também novos modos de utilização das tecnologias da informação, voltados para a produção de visões e comportamentos alternativos. Um exemplo são as rádios e as TVs comunitárias, que usam técnicas empregadas na produção de filmes e novelas para apresentar uma interpretação distinta das difundidas pela indústria cultural, ressignificando-as ao valorizar aspectos ignorados pelas grandes empresas de comunicação.
Outro exemplo atual são as redes sociais. Ainda que com alcance limitado e, por vezes, marcadas pelo consumismo e pelo individualismo, essas redes se tornaram instrumentos importantes na produção de novos significados e novas formas de comportamento, que se diferenciam dos padrões estabelecidos pelas classes sociais dominantes.
Um bom exemplo disso foi a utilização das redes sociais nos eventos da chamada Primavera Árabe, pois elas permitiram aos que lutavam contra governos autoritários (que por décadas exerceram controle sobre a população e reprimiram a oposição) transmitir e divulgar ideias e eventos, superando o bloqueio das mídias oficiais. Assim, conseguiram obter apoio para sua luta politica em várias partes do mundo.

Considerações sociológicas

Escola: um lugar de controle ou de aquisição de conhecimento?
A escola foi sempre um dos temas mais polêmicos na Sociologia, justamente por ter tomada, ao longo do século XX, uma das atitudes centrais no processo de socialização dos indivíduos. A Sociologia contemporânea, observar outras conexões entre escola, educação e sociedade. Uma das teorias mais importantes do seculo XX, a de Bourdieu, aponta a escola como um espaço que reproduz as desigualdades sociais, cultura e econômicas. No livro A reprodução, Bourdon e Passeron apontam que, em uma sociedade de classes, as distinções não são apenas econômicas, mas também culturais. Assim, as classes dominantes possuem determinadas características culturais que se distinguem das classes trabalhadoras pelos gostos, modos de se vestir e de falar, entre outros aspectos. Para os autores, a escola seleciona os conhecimentos e valores das classes dominantes como os de maior valor, frequentemente menosprezando os elementos culturais das classes trabalhadoras e auxiliando na reprodução das deidades sociais. Dessa forma, os filhos das classes dominantes, possuindo o patrimônio cultural considerado mais "importante" pelas escolas, tendem a ter maior sucesso escolar do que os das classes trabalhadoras, reproduzindo as respectivas posições sociais das famílias de origem e mantendo a mesma configuração das classes sociais por muitas gerações.
Essa teoria teve amplo impacto na Sociologia, pois enfatiza os aspectos de reprodução das desigualdades e de controle social com base em uma instituição fundamental das sociedades que se intitulam democráticas. Uma vez que a escola e apontada como o espaço de socialização e de manutenção da ordem sem recurso violência, a teoria de Bourdieu e Passeron leva a refletir sobre o papel da escola e da violência simbólica promovida por ela no contexto das sociedades ocidentais.
Diversos sociólogos passaram a repensar a escola com base nas questões levantadas por Bourdieu e Passeron. Alguns criticaram severamente essa visão, pois apontaram que nas instituições existem movimentos contrários que podem mudá-las "por dentro". O sociólogo brasileiro Décio Saes, por exemplo, aponta que no Brasil as classes dominantes também temem que os trabalhadores adquiram educação demais, pelos possíveis efeitos politizadores a que isso pode levar.
Para os jovens brasileiros, a escola representa uma trajetória obrigatória para realizar algum tipo de mobilidade social. O diploma é reconhecidamente importante para todas as famílias de classes populares e médias, pois confere aos indivíduos a possibilidade de receber um salario mais alto e, assim ter maior mobilidade e reconhecimento sociais. A sim os jovens procuram, de diversos modos, estar na escola, mesmo tendo de concilia com atividades de trabalho e de ajuda em casa. O controle social e a violência simbólica que a escola lhes impinge são sentidos de maneira ainda mais intensa, por causa da distancia entre os conhecimentos teóricos considerados relevantes e as necessidades proteicas diárias de sua vida. Isso cria uma grande frustração em relação escola e a uma atitude pragmática que se distancia do potencial de reflexo que ela poderia promover: o mais importante para esses estudantes trabalhadores e o diploma, que terá para eles algum uso prático na vida social.

domingo, 19 de abril de 2020

Livro - Sociologia em Movimento - Cap. 04 - O processo de socialização

Primeiras palavras
Dados disponíveis nos últimos censos (2000 e 2010) realizados pelo Instituto Brasil e de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o número de pessoas com deficiências saltou de 14.5% em 2000, para 24% em 2010 Em números absolutos, saímos de aproximadamente 25 milhões para 45 milhões em apenas uma década. O Aumento do número de pessoas deficiência coloca novas questões para o conjunto da sociedade. Afinal de que maneira pessoas podem se integrar a vida social? Como garantir o acesso delas a todos os instituições sociais que fazem parte do processo de socialização comum entre os indivíduos da nossa sociedade? Como deve ser sua inserção nas escolas e no mercado de trabalho?
Esses questionamentos se impõem porque se reconhecer que o pertencimento a esses espaços e instituições em importante para garantir o ajustamento social a autônomo na realização das atividades diárias. E compartilhando espaços e relaxes que ocorre o compartilhamento de comportamentos, normas e padrões sociais.
Como entender que seres humanos com os quais nos estabelecemos contato direto compartilham conosco opiniões comportamentos? Os estudos sociológicos sobre socialização nos ajudam a responder a essas indagações. A socialização é um processos que ocorrem em qualquer sociedade, e atua na conformação dos indivíduos. Há uma relação direta entre socialização, controle social ideologia no sentido conferido por Marx, ou seja, como sistemas de ideias que legitimam o poder das classes dominantes.


O processo de socialização
A Sociedade é uma construção humana. Entretanto, o ser humano também é resultado do meio social no qual esta inserida. Os Integrantes da espécie humana não conseguem sobreviver isolados nem se desenvolver sem a interferência de um grupo na formação de sua individualidade. A relação entre os indivíduos e a sociedade em que vivem é estudada pela Sociologia de acordo com o conceito de socialização. Esse conceito procura estabelecer os parâmetros análise do processo pelo qual a sociedade concebe os indivíduos, e os indivíduos, por sua vez, concebem sociedade. Podemos dizer, portanto, que a socialização é o processo de assimilação dos códigos e padrões culturais de um grupo social por parte dos diferentes indivíduos que o constituem, contribuindo para integrá-los. Esse processo se inicia no nascimento e continua por toda a vida, por meio do contato permanente de uns com outros.
A análise do processo de socialização como fase central da formação humana ganha importância cientifica com a obra História social da infância e da família (1973), do historiador francês Philippe Ariès (19741984), que estuda a construção social da família e da infância na modernidade. Ariès aponta que a caracterização da infância como fase especifica da vida, na qual o individuo recebe atenção especial, e uma ideia que surge apenas a partir do século XVIII.
Desde os primeiros contatos com o núcleo familiar, passando pela formação de relações de amizade, amorosas ou profissionais, os indivíduos são levados a estabelecer laços entre si. Constroem sua identidade e sua personalidade com base nesse processo ininterrupto, sempre influenciados pelos diferentes elementos presentes na vida social. Para Peter Berger, a socialização constitui a interiorização, pelos indivíduos, da realidade vivida, que é subjetiva, em um desenvolvimento que os integra aos grupos sociais dos quais fazem parte desde a infância. Isso ocorre por meio dos mecanismos de socialização pelos quais o mundo exterior molda o mundo interior dos indivíduos. Esses mecanismos são a aprendizagem, a imitação e a identificação.

Quem escreveu sobre isso 
Peter Berger: a socialização e um processo
que envolve aprendizagem, imitação 

e Identificação.

Peter Berger
 Peter Berger nasceu na Áustria, em 1929 Como muitos intelectuais europeus de seu tempo, estabeleceu-se nos Estados Unidos após o final da Segunda Guerra Mundial. Desde que publicou A construção social da realidade (1966), livro escrito em parceria com o sociólogo alemão Thomas Luckmann (1927), reconhecido como um dos mais importantes autores da Sociologia do Conhecimento.  Atualmente, desenvolve trabalhos na área da Sociologia da Religião, debatendo questões como a relação entre convicção religiosa e fanatismo e o lugar das religiões no contexto do relativismo pós-moderno. 
Socialização primária e secundária
Os mecanismos de socialização acontecem em dois níveis: a socialização primária e a socialização secundaria. Denominamos socialização primária os contatos caracterizados por alto grau de afetividade, que tem relações diretas e de forte próximo entre os integrantes, as interações face E nessa fase que os indivíduos internalizam suas experiencias e estabelecem, na maioria dos casos, relações sólidas e permanentes. Assim, tornam-se parte de um contrato social. Isso ocorre principalmente na infância a família é o melhor exemplo.

A socialização secundária pode ser entendida como a socialização iniciada do da infância e que continua pelo resto da vida. Nesse momento, a criança e introduzida em novas e diferentes realidades sociais, mais específicas, o que normalmente acontece nos espaços sociais fora da família nuclear, de forma mais dispersa. E o processo de socializa do que ocorre nos locais de trabalho, nos grupos de amigos, nas práticas esportivas em grupo Diferentemente da socialização primaria, os agentes do ai mais diversificados, sua atividade na adaptação do individuo ao grupo em questão está relacionada as escolhas e as situações sociais experimentadas pelos elementos envolvidos.
Atualmente, há um agente de socialização que exerce significativa influencia sobre esses processos os meios de comunicação de massa, capazes de causar impacto na formação dos indivíduos desde a primeira infância, por meio dos programas televisivos e da publicidade direcionados ao público infantil.

Agentes de socialização
Os agentes de socialização são responsáveis pela implementação efetiva dos mecanismos de socialização, como família, escola e diferentes grupos sociais. A partir do século XX também os meios de comunicação de massa podem ser incluídos nesse grupo, em muitos casos rivalizando com outros agentes, em especial a escola e a família. No século XXI, a difusão das tecnologias da informação e a expansão das redes sociais online ampliaram moleque de agentes de socialização.
As instituições sociais determinam as diferentes maneiras pelas quais os indivíduos são moldados no decurso de sua socialização Por instituições sociais entende-se o conjunto relativamente estável de padrões culturais estabelecidos coletivamente e que serve como modelo para a construção da personalidade e das ações dos indivíduos.
No sentido sociológico, instituição social não implica necessariamente numa estrutura material nem organização formal, mas, sim, em um padrão amplamente aceito o aço que tenta atender as necessidades criadas pelos agrupamentos humanos ao long do tempo. O casamento é um exemplo de instituição social, pois é uma forma 3000 mente reconhecida de relacionamento entre indivíduos que supre as necessidades sociais (reprodução e construção de um ambiente de socialização primaria) e apresenta caráter normativo (regras, como monogamia, idade minima e proibição de casamento entre membros da família nuclear).
No processo de aprendizado e interação com tudo aquilo que nos cerca surgem diferentes características condicionam nossos pensamentos ações e desejos individuais, alem de estabelecer vínculos entre quem somos e os grupos dos quais fazemos parte. Por isso, os processos de socialização também são fundamentais para definição das identidades sociais. Afinal, as maneiras pelas quais interiorizamos as formas e os padrões culturais presentes em nossa sociedade estão diretamente relacionadas com a identificação consciente dos valores, das praticas e dos saberes que acolhemos ou rejeitamos o longo da vida.

Grupos, instituições e categorias sociais
Para estudarmos os grupos sociais é importante, em um primeiro momento, diferenciá-los das instituições sociais. Ainda que ambos estejam relacionados, os grupos sociais se estabelecem por meio de interesses, praticas e valores compartilhados por dois ou mais indivíduos, enquanto as instituições sociais se referem a padrões e normas que se aplicam aos diferentes grupos existentes em uma sociedade.
Nesse sentido, a família é a primeira instituição social com a qual temos contato (cumpre o papel de transmitir padrões gerais de relacionamento dos laços de parentesco hábitos e costumes socialmente compartilhados). Da mesma maneira a escola é responsável pela transmissão de padrões de relacionamento com grupos aos quais inicialmente não pertencemos, do aprendizado de códigos e linguagens sociais e da pratica dos valores necessários para a vida em comum. A religião, por sua vez, transmite padrões morais socialmente aceitas, além de modos de refletir sobre a morte e temas transcendentais.
Ao longo da vida, os membros de uma sociedade se inserem em grupos sociais distintos. As tribos urbanas são exemplos de grupos sociais. As famílias (como conjunto de pessoas, algo diferente do conceito de instituição social), os estudantes e os trabalhadores de determinada empresa são também exemplos de grupos sociais, constituídos pela adesão dos sujeitos a certas formas comuns de ação, que os integram a uma coletividade especifica.
Os grupos sociais estão diretamente relacionados aos processos de socialização primários e secundários. Dessa maneira, podemos classificá-los de acordo com o processo de socialização no qual se estabelecem. Os grupos sociais primários são aqueles em que as relações sociais se caracterizam pela proximidade e pela interação direta. Seus integrantes - um pequeno grupo de indivíduos - desenvolvem sólidas relações de identificação uns com os outros.
Os grupos sociais secundários são aqueles em que as relações se pautam pela impessoalidade, sustentadas por regras e normas formas de organização. As relações de identificação são menos sólidas, e a convivência ocorre por um tempo menor do que nos grupos primários. Podem ser, por exemplo, grupos formados por muitas pessoas que se conhecem apenas superficialmente, como o conjunto dos alunos de uma universidade.
Existem também grupos sociais intermediários Trabalhadores de uma mesma categoria profissional ou de uma empresa, que atuam nos mesmos locais de trabalho, estabelecendo uma convivência prolongada e compartilhando experiencias sociais semelhantes, tendem a desenvolver laços sociais similares aqueles encontrados nos grupos sociais primários. Nesse caso, estamos diante de um grupo social intermediário, que combina características tanto dos grupos primários quanto dos secundários Os professores de uma escola ou os membros de uma equipe desportiva que convivem por longos períodos de tempo podem ser um exemplo de grupos sociais intermediários.
A vida social nas sociedades contemporâneas possibilita que a experiência em diferentes tipos de grupos sociais aconteça, às vezes, no mesmo espaço. Por exemplo quando um estudante passa a frequentar uma escola, ele estabelece tipos distintos relações com outros estudantes. Com alguns deles, pode criar laços que vão além do própria escola, partilhando referências, comportamentos e identificações sólidas que permanecem por longo tempo (grupo social primário). Com outros, pode estabelecer relações sociais momentâneas, como a realização de uma atividade de pesquisa ou conversas informais no pátio da escola (grupo social secundário). E com outros, ainda, pode estabelecer relações sociais que sejam sólidas e duráveis (como gostar das mesmas disciplinas, participar constantemente das mesmas atividades), mas que estejam limitadas pela condição de estudante (essas relações são construídas por demandas, interesses e necessidades vivenciados no espaço escolar), caracterizando um grupo social intermediário.

Outra característica das sociedades contemporâneas é a existência de grupos de pessoas que realizam ações atividades iguais sem estabelecer laços diretos entre si, como consumidores de uma loja de departamentos ou trabalhadores em busca de um novo emprego Nesses casos estamos diante de categorias sociais que para a Sociologia, são formadas por indivíduos que vivem experiências semelhantes, porém não estabelecem relações sociais diretas uns com os outros Os estudantes de uma rede municipal ou estadual de ensino, por exemplo, formam uma categoria social.

Interação social
Na vida em sociedade, um elemento central para a construção de cada sujeito é sua interação social ou o modo pelo qual ele estabelece relações com os outros indivíduos e grupos sociais. Por interação social entende-se o conjunto jeans influencias reciprocas desenvolvidas entre os indivíduos e entre estes e os grupos sociais. Todo processo de socialização ocorre em um contexto de interação social.
Para o sociólogo alemão Georg Simmel a sociedade resulta das interações sociais estabelecidas entre os indivíduos. No entanto, para que elas formem a sociedade, seu conteúdo precisa estar representado seguindo um conjunto de parâmetros que orientam as diferentes maneiras de interação. Esses parâmetros formam a base sobre a qual as interações sociais se desenvolvem Por exemplo, um grupo de amigos resolve criar um time de futebol amador no bairro onde mora. Como e um time amador, não esta necessariamente sujeito as regras oficiais do futebol. No entanto, para que a iniciativa produza o efeito desejado, eles tomam como parâmetro, ou modelo, as equipes de futebol existentes na sociedade.
As formas de interação se repetem embora seu conteúdo possa variar Os diferentes modos interação social, como a cooperação, a competição e conflito, slo padrões estáveis, ainda que possam manifestar seu conteúdo tanto no trabalho doméstico quanto nas atividades escolares (cooperação), nos esportes e nos concursos (competição): ou mesmo nas relações entre patrões e empregados ou fazendeiros e trabalhadores rurais sem-terra (conflito).

 Quem escreveu sobre isso
Georg Simmel: "Diante da mobilidade de
conhecer totalidade dos processos sociais
estudos sobre seus fragmentos  detalhes
podem leva à compreensão do todo”.
Georg Simmel Georg Simmel 18581918 foi um ativo sociólogo alemão que publicou ao longo da vida cerca de 25 Livros e mais de 300 ensaios sociológicos sobre os mais variados temas Apesar de sua produtividade e da qualidade de seu trabalho, foi ignorado por muitos acadêmicos contemporâneos. Seus estudos foram importantes para a microssociologia, uma análise dos fenômenos no âmbito das interações diretas entre as pessoas.
Entre seus muitos trabalhos é possivel destacar A filosofia do dinheiro (publicado em 1900), A metro pole e a vida mental (1903) e Questões fundamentais de Sociologia (1917).


Para o sociólogo canadense Erving Goffman, a interação social e realizada su as posições e os papéis executados por atores e grupos sociais e ocorre nas chama situações sociais, em um ambiente histórica e espacialmente definido. Nesse conte há uma serie de rituais que ordenar e orientam as relações sociais, permitindo aos dividuos e aos grupos se identificarem e serem identificados e monitorados por forms de agir de falar e de responder as diferentes situações sociais.
Uma das tarefas da socialização e a percepção, por parte dos individuos e grupos, da necessidade de adotar condutas reconhecidas socialmente no processo de interação social Quando comparecemos a uma festa de aniversário, independentemente da proximidade que tenhamos como aniversariante, estamos conscientes de que determinadas condutas devem ser adotadas naquele momento. Do mesmo modo, em cada ambiente ou situação social, adotamos comportamentos que supomos serem os esperados, os quais variam quando estamos em casa, em uma cerimônia de formatura ou em um velório.

Quem escreveu sobre isso
Erving Goffman integrou, em seus trabalhos, uma serie
de autores provenientes de diversas tradições intelectuais,
 no periodo em que os diferentes modelos explicativos
existentes nas Ciencias Sociais tendiam a manter certa
distancia entre si.

Erving Goffman Erving Goffman (1922-1982), sociólogo canadense, contribuiu de maneira signi ficativa para a teoria sociológica como desenvolvimento do interacionismo sim bólico, criado de acordo com a análise dramaturgica das interações sociais cotidianas Desenvolveu importantes estu dos sobre a construção das identidades sociais do estigma e das formas de inte razão social tanto na vida cotidiana quanto no que chamou de instituições totais, como manicômios e prisões.
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