No senso comum, é possível escutar que o
feminismo é o contrário do machismo seria: uma tentativa de impor o poder das
mulheres por intermédio da força ou das ideias feministas. Nada mais equivocado.
Em primeiro lugar, o feminismo nasceu de um movimento de igualdade e não de
superioridade. Em segundo, o mais correto seria falar feminismos, no plural, tendo em vista as diversas concepções e debates
que marcam essas teorias.
Para os historiadores, as origens do feminismo
dental podem ser situadas no século XIX. Segundo a historiadora canadense
Marlene LeGates (1943), falar em feminismo antes desse século cometer um anacronismo,
pois, embora existissem mulheres e homens preocupados com opressão masculina, o
feminismo como movimento social e corrente de pensamento ainda não havia se
organizado.
Alguns
historiadores se referem a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, de
1791, redigida por Olympe de Gouges (1748-1793), para lembrar como o feminismo
tem origens remotas. Olympe de Gouges foi uma escritora francesa, considerada uma
pioneira do feminismo, que morreu executada pelos jacobinos, em 1793, por
causa de suas opiniões. No entanto, ao se falar das origens do feminismo,
normalmente se faz referência a chamada primeira onda, que seria constituída pelos
primeiros movimentos organizados por mulheres no século XIX, em países
ocidentais, em torno de inúmeros direitos, principalmente o direito ao voto.
Historiadora brasileira Celi Regina Pinto lembra que no Brasil as primeiras feministas também se organizaram em torno dos direitos
políticos: lideradas por Bertha Lutz (1894-1976) e pela Federação Brasileira
pelo Progresso Feminino, conquistaram, em 1932, o direito ao voto. No inicio do
seculo XX, tanto no Brasil quanto na Europa, houve o crescimento de organizações operárias feministas, de influência anarquista ou socialista, assim como de
organizações de mulheres de classe média, como associações e clubes.
O feminismo sempre se combinou com lutas
democráticas em todos os lugares do mundo. Assim, nos movimentos socialistas e
operários do seculo XIX, tal como nos movimentos anarquistas, foram inúmeras as
organizações de mulheres e lideranças feministas em várias fábricas e no campo. O Dia
Internacional das Mulheres, por exemplo, nasceu da iniciativa da líder socialista alemã Clara
Zetkin (1857-1933), que propôs em uma Conferência Socialista a adoção do 8 de
março para celebrar essa data.
A organização de associações e movimentos feministas diferiu no que concerne não apenas a classes sociais, mas também a termos raciais.
As feministas negras do pós-colonialismo afirmaram que feministas brancas se organizaram em torno de lutas para que tivessem empregos e carreiras, assim como o reconhecimento como cidadãs, sem, no entanto, atentarem para o fato de que as mulheres negras continuavam a ser penalizadas tanto pelo sexismo quanto pelo racismo, não usufruindo das conquistas do feminismo branco. Esses novos feminismos salientavam também que a situação da mulher rica e de classe média não podia ser igualada a de mulheres negras, indígenas ou de países colonizados, tendo em vista que estas últimas, o problema não era a monotonia de ser "dona de casa", mas o trabalho pesado, a discriminação (racial e de classe) e a transformação de seu corpo em objeto, que as tomavam vitimas comuns de crimes sexuais.
As modificações nas sociedades ocidentais após
as guerras mundiais do século XX levaram a mudanças também no feminismo. Nos
anos 1960, surgiu a chamada segunda onda feminista, em que as reivindicações
das mulheres passaram a se dirigir ao mercado de trabalho, a divisão de tarefas
familiares e aos direitos reprodutivos. Nesse mesmo período porém, abriram-se
divergências no próprio feminismo, o que resultou na criação de diferentes
correntes: o feminismo liberal, o feminismo radical, o feminismo negro e o
feminismo socialista. Essas divergências não significaram uma decadência do
movimento, muito pelo contrario: as correntes do feminismo progrediram graças ao
desenvolvimento teórico e filosófico bastante avançado, que permitiu que a
pluralidade de situações em relação mulheres fosse contemplada, e as lutas
sociais fossem ainda mais precisas e eficazes.A organização de associações e movimentos feministas diferiu no que concerne não apenas a classes sociais, mas também a termos raciais.
As feministas negras do pós-colonialismo afirmaram que feministas brancas se organizaram em torno de lutas para que tivessem empregos e carreiras, assim como o reconhecimento como cidadãs, sem, no entanto, atentarem para o fato de que as mulheres negras continuavam a ser penalizadas tanto pelo sexismo quanto pelo racismo, não usufruindo das conquistas do feminismo branco. Esses novos feminismos salientavam também que a situação da mulher rica e de classe média não podia ser igualada a de mulheres negras, indígenas ou de países colonizados, tendo em vista que estas últimas, o problema não era a monotonia de ser "dona de casa", mas o trabalho pesado, a discriminação (racial e de classe) e a transformação de seu corpo em objeto, que as tomavam vitimas comuns de crimes sexuais.
O
feminismo liberal é aquele ligado as questões de maior igualdade nos contextos
institucionais. Sem dúvida, foi importante para assegurar leis e conhecimentos
jurídicos para as mulheres assim como para cobrar do Estado a criminalização do
estupro e outros crimes relacionados a mulher.
O feminismo socialista e marxista desenvolve-se hoje no campo teórico, criticando o caráter de classe do feminismo europeu e ressaltando a luta das mulheres operárias e camponesas para demonstrar que o feminismo poderia ter caráter revolucionário. Ressaltam a importância das mulheres na luta revolucionaria, enfatizando a destruição do capitalismo como condição prévia para a destruição do patriarcado.
O feminismo socialista e marxista desenvolve-se hoje no campo teórico, criticando o caráter de classe do feminismo europeu e ressaltando a luta das mulheres operárias e camponesas para demonstrar que o feminismo poderia ter caráter revolucionário. Ressaltam a importância das mulheres na luta revolucionaria, enfatizando a destruição do capitalismo como condição prévia para a destruição do patriarcado.
O feminismo negro e pós-colonial ressalta a luta das
mulheres tornadas invisíveis pelo feminismo branco: as lutas anticoloniais na
Asia, nas Américas e na Africa, assim como as lutas operárias das quais as
mulheres foram protagonistas. Esse feminismo muitas vezes se alinhou ao
socialismo, ao marxismo e aos movimentos revolucionários, mas também encaminhou
lutas para a conquista de direitos civis, principalmente.
Embora criticado por todas as outras correntes
do movimento feminista, o feminismo radical é que vai apresentar a sexualidade
como tema central para a compreensão dos padrões e das discriminações em torno
dos gêneros. As feministas radicais argumentam que a diferença mais importante
entre homens e mulheres esta na reprodução, e, portanto, é a família, como
núcleo reprodutor, que representa a base de opressão das mulheres. Nesse
sentido, os direitos sobre o corpo, que incluem a defesa do aborto, a separação
entre a sexualidade e a procriação e a abertura para as diferentes
sexualidades, são as pautas principais do feminismo radical.
O feminismo radical influenciou as teorias
pós-estruturalistas e Queer que compõem a terceira onda do feminismo, iniciada nos
anos 1980, sendo também influenciado por elas. Esse é um dos momentos mais
efervescentes do feminismo, pois os movimentos de gays e trans transformaram as
concepções clássicas sobre sexualidade e política, apresentando o tema da
orientação sexual como base de novos movimentos políticos e sociais.
A ideia de uma orientação sexual oposta à da expectativa da sociedade era motivo de aversão, sendo tratada como distúrbio psíquico, fisiológico e moral. Os homossexuais eram marginalizados na sociedade (e ainda são em muitos contextos), e seus espaços de sociabilidade e interação ficavam restritos a bares, tabernas e cubes Secretos, que constantemente eram alvo de investigação e repressão policial. Em 28 de junho de 1968, frequentadores do bar Stonewall Inn, em Nova York, enfrentaram uma ação policial no que se tornou um evento emblemático e um marco na luta pelos direitos e reconhecimento do "orgulho gay". A década de 1960, de maneira geral, representou um momento marcante de contestação dos costumes, tanto no âmbito politico quanto no cultural, simbolizado pelos protestos contra a guerra do Vietnã, o movimento de maio de 1968 na França, os movimentos hippie e feminista.
Apesar das mudanças trazidas pelos movimentos de contracultura, as décadas seguintes foram de estigmatização e discriminação em virtude do surgimento da epidemia de HIV/ Aids, quando, com base no discurso cientifico e também religioso, a orientação sexual foi associada diretamente a doença. A ideia de homossexualidade e doença persistiu durante muito tempo. O próprio termo homossexualidade não existia, sendo utilizada a categoria homossexualismo, que pressupõe problemas patológicos. No século XIX e ao longo de parte do seculo XX, a homossexualidade aparecia na classificação de doenças e somente em 1990 foi retirada da lista internacional da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 1985. no Brasil, antes mesmo da retirada da lista, o Conselho Federal de Psicologia já não a considerava uma patologia.
A ideia de uma orientação sexual oposta à da expectativa da sociedade era motivo de aversão, sendo tratada como distúrbio psíquico, fisiológico e moral. Os homossexuais eram marginalizados na sociedade (e ainda são em muitos contextos), e seus espaços de sociabilidade e interação ficavam restritos a bares, tabernas e cubes Secretos, que constantemente eram alvo de investigação e repressão policial. Em 28 de junho de 1968, frequentadores do bar Stonewall Inn, em Nova York, enfrentaram uma ação policial no que se tornou um evento emblemático e um marco na luta pelos direitos e reconhecimento do "orgulho gay". A década de 1960, de maneira geral, representou um momento marcante de contestação dos costumes, tanto no âmbito politico quanto no cultural, simbolizado pelos protestos contra a guerra do Vietnã, o movimento de maio de 1968 na França, os movimentos hippie e feminista.
Apesar das mudanças trazidas pelos movimentos de contracultura, as décadas seguintes foram de estigmatização e discriminação em virtude do surgimento da epidemia de HIV/ Aids, quando, com base no discurso cientifico e também religioso, a orientação sexual foi associada diretamente a doença. A ideia de homossexualidade e doença persistiu durante muito tempo. O próprio termo homossexualidade não existia, sendo utilizada a categoria homossexualismo, que pressupõe problemas patológicos. No século XIX e ao longo de parte do seculo XX, a homossexualidade aparecia na classificação de doenças e somente em 1990 foi retirada da lista internacional da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 1985. no Brasil, antes mesmo da retirada da lista, o Conselho Federal de Psicologia já não a considerava uma patologia.
A partir da década de 1990, com o controle da
epidemia de Aids e o maior envolvi mento de organizações governamentais e não governamentais, já se percebe uma rearticulação dos movimentos de direitos
civis e de combate a discriminação e a homofobia. Essa reorganização do
movimento trouxe reflexões importantes, como a descentralização da
homossexualidade masculina, dando visibilidade a lésbicas, bissexuais,
travestis, transsexuais e transgêneros.
Hoje,
varias passeatas e diferentes vertentes do movimento se organizam para resistir
aos constantes problemas enfrentados e também para divulgá-los, seja na questão
da violência, seja na restrição dos direitos de cidadania. No Brasil, em 2011
algumas conquistas foram asseguradas pela decisão do Supremo Tribunal Federal
sobre o reconhecimento da união estável em famílias homoafetivas. Com essa
deliberação, inúmeros direitos foram conquistados e equiparados aos dos casais
compostos por homem e mulher: a comunhão parcial de bens, as pensões
alimentícias e do INSS, a inclusão de dependentes nos planos de saúde e no
imposto de renda, entre outros. Apesar das conquistas, ainda há muitos objetivos no
horizonte do movimento LGBT, como as lutas pela criminalização da homofobia e pelo
estabelecimento de políticas públicas que promovam a inclusão da população LGBT
nos projetos de combate às desigualdades.
Atualmente, os movimentes LGBTQ+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, Queer e outros) e o feminismo procuram unir suas lutas, mantendo divergências e desenvolvendo percepções politicas e teóricas novas com certa frequência. Entre as teorias mais debatidas no Brasil atualmente, estão a teoria Queer, assim como o transfeminismo, movimento que tem sido marcado pela união do feminismo com os movimentos em defesa das mulheres trans. O ecofeminismo também vem ganhando espaço, especialmente na Índia e nos Estados Unidos. Essa corrente, que se originou de causas ambientais e indígenas, teve certa repercussão no Brasil por meio de estudos científicos, mas com pouca influência nos movimentos sociais.
Atualmente, os movimentes LGBTQ+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, Queer e outros) e o feminismo procuram unir suas lutas, mantendo divergências e desenvolvendo percepções politicas e teóricas novas com certa frequência. Entre as teorias mais debatidas no Brasil atualmente, estão a teoria Queer, assim como o transfeminismo, movimento que tem sido marcado pela união do feminismo com os movimentos em defesa das mulheres trans. O ecofeminismo também vem ganhando espaço, especialmente na Índia e nos Estados Unidos. Essa corrente, que se originou de causas ambientais e indígenas, teve certa repercussão no Brasil por meio de estudos científicos, mas com pouca influência nos movimentos sociais.