O Brasil é uma nação
pluriétnica e multicultural, composta por diversas formas de organização social
em diferentes grupos. Podemos observar essa diversidade e suas variações, por
exemplo, entre os proprietários de terras, os dirigentes e os representantes políticos,
os moradores das favelas nas grandes cidades, a população jovem que cursa o
Ensino Médio em escolas públicas. Neste país com indivíduos tão diferentes
entre si – pela cor da pele, pela classe social a que se integram, pela região
onde moram, pela geração a que pertencem, etc. – existem um racismo difuso e
uma discriminação velada, porém efetivos. Esses sentimentos perpassam as
relações sociais, seja no trabalho, seja na escola, e se expressam na
intolerância cotidiana e na não aceitação da diferença, seja ela de cor de
pele, de comportamento, de costumes ou de aparência.
Desconsiderar a diversidade
cultural, muitas vezes, nos impede de perceber que a desigualdade social e a
discriminação restringem o acesso aos bens materiais e culturais por amplos
setores da população. Desencadeadas pelo preconceito e pela concentração de
renda (e de poder), novas formas de exclusão social derivam hoje do desemprego,
do trabalho precário, das exigências da tecnologia informacional, próprias do
moderno processo de produção capitalista.
Devido à desigualdade social
marcante no Brasil, surgem diferentes concepções e representações da realidade
nacional. A cultura, assim como os códigos de conduta e de sobrevivência entre
as populações marginalizadas – moradores de rua, de comunidades de baixa renda,
desempregados –, expressam modos de vida muito particulares. O caso das
comunidades indígenas brasileiras é significativo para pensarmos na
marginalização de certas culturas.
Durante muitos séculos, os
indígenas não foram respeitados em seus costumes e no seu direito ao uso das
terras. Os povos indígenas que sobreviveram ao genocídio causado pela
colonização foram limitados a espaços onde não conseguem viver sua cultura de
forma plena. A falta de respeito à sua cultura também faz com que empresas
multinacionais e fazendeiros se aproveitem ilegalmente de suas terras, muitas
vezes acabando com a sustentabilidade dos recursos naturais que as tribos
utilizariam como forma de subsistência.
A Constituição brasileira de 1988 garante a demarcação das terras indígenas com o objetivo de reverter algumas injustiças e proporcionar condições de subsistência para o modo de vida de suas populações, embora o conflito com fazendeiros e representantes do agronegócio seja constante. Ainda que muitos de seus traços culturais estejam presentes em nosso cotidiano e seja significativa a sua contribuição para o desenvolvimento do país, a participação desses povos em nossa história continua pouco valorizada pela maioria das pessoas.
Um processo semelhante ocorreu com os negros escravizados, cuja chegada ao Brasil se relaciona aos processos de escravização e deportação de pessoas da África para a América. Na visão do antropólogo Carlos Brandão, esse grupo étnico também foi “educado” pelos europeus, ou seja, tornado “igual” para melhor servir aos interesses dos grandes proprietários de terra. Aos africanos trazidos e a seus descendentes foram impostas a língua e a religião dos colonizadores para que pudessem entender as ordens recebidas e obedecer.
Muitas vezes as culturas do branco, ou seja, dos europeus e seus descendentes foram (e são) julgadas superiores às outras, o que resultou no passado e no presente em diversas formas de resistência à dominação cultural. Um episódio histórico de 1835, na Bahia, ilustra uma resistência, a dos Malês, escravos africanos de religião muçulmana, dispostos a abolir a dominação dos senhores brancos. A revolta foi duramente reprimida pelas forças oficiais.
A importância dos africanos e seus descendentes para a história do Brasil, como alertam diversos estudos culturais, precisa ser reconhecida e valorizada.
Os registros de sua trajetória, de sua cultura e de seu trabalho – fundamentais para nossa economia – estão muito aquém da riqueza e da diversidade de sua participação. Visando reparar essa situação e expor o preconceito existente na nossa sociedade, alguns sociólogos se dedicaram ao tema, como foi o caso de Florestan Fernandes, em A integração do negro na sociedade de classes (1964), e de Octavio Ianni, com As metamorfoses do escravo (1962) e Raças e classes sociais no Brasil (1966). Esses estudos mostram que o preconceito e o racismo têm raízes em condições sociais históricas.
Os direitos conquistados na legislação por esses grupos não têm sido suficientes para constituir uma sociedade de justiça e democracia. Basta lembrar que a discriminação é considerada crime desde a Constituição de 1988, mas nem por isso ela deixou de existir. Em seus artigos 215 e 216, por exemplo, a Constituição discorre sobre a possibilidade de regularização de terras para as comunidades remanescentes de quilombos, reconhecendo a propriedade definitiva sobre elas, desde que ocupadas por descendentes de escravos. Porém, como no caso das terras indígenas, muitos processos de regularização demoram anos para serem concluídos, devido à pressão de grupos econômicos.
Ainda que indivíduos e famílias pertencentes aos grupos denominados minorias estejam conseguindo galgar posições valorizadas social e economicamente pela conquista de um emprego formal ou de melhores condições de vida, superando preconceitos, barreiras econômicas e culturais, os dados estatísticos brasileiros revelam a persistência da desigualdade social racial.
O racismo é uma construção
histórica que resiste no campo simbólico, ou seja, nas ideias que as pessoas
têm sobre “ser negro” e “ser branco”. Os estudos sobre esse tema sugerem que o
combate ao preconceito precisa ser enfrentado pelo Estado por meio da educação
e de políticas afirmativas, com o objetivo de desenvolver a cidadania plena,
isto é, com todos os direitos sociais e políticos assegurados.
A construção de uma identidade nacional está ligada à ideia de pertencimento a um território, a um país ou a um povo. assim, as diferenças culturais estão presentes na formação da sociedade. |
Há, no mundo atual, intenso imbricamento cultural entre as realidades locais e a global. O diverso e o diferente se ampliam para além das questões étnico-raciais. As demais culturas estrangeiras, especialmente as europeias e a estadunidense, influenciam na constante transformação da cultura brasileira, seja pela presença do imigrante em nossa história, seja pelo desenvolvimento do mercado de consumo – moda, tecnologia, artes, conhecimentos variados – e dos meios de comunicação de massa.
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