segunda-feira, 22 de junho de 2020

A vez da indústria

No quadro das grandes revoluções do século XVIII, há ainda uma que não teve caráter político, mas, para o historiador inglês Eric Hobsbawm, representou o mais importante acontecimento da história do mundo desde o domínio da agricultura: a Revolução Industrial, que ampliou os meios de sobrevivência dos homens e das cidades, e permitiu uma nova forma de sociabilidade.

Sabe-se que a expressão Revolução Industrial foi aplicada às inovações técnicas que alteraram os métodos de trabalho tradicionais e, a partir das últimas décadas do século XVIII, propiciaram grande enriquecimento econômico. Há também consenso quanto ao fato de que a Inglaterra foi o primeiro país a entrar na era industrial. No entanto, a Revolução Industrial não foi um episódio precisamente datado, com princípio, meio e fim. Em muitos casos, a industrialização foi um processo lento. A essência da Revolução Industrial está, na verdade, na ideia de que a “mudança é a norma”. A validade desse princípio pode ser facilmente percebida até hoje: inventa-se algo e, em pouco tempo, uma nova técnica ou um novo instrumento mais eficiente torna o anterior obsoleto.

 

Eduard Bierma. Indústria de caldeiras a vapor em Berlim, 1847. Óleo sobre tela, 1,10 × 1,61 m./ Archiv der Borsigschen Vermögensverwaltung, Dauerleihgabe an, Alemanha 

Além de alterar a maneira de lidar com a técnica, a Revolução Industrial produziu outras mudanças. A fábrica tornou-se um importante local de trabalho; os capitalistas tornaram-se os detentores dos meios de produção (terra, equipamentos, máquinas); o trabalhador, contratado livremente, passou a receber salário, podendo se deslocar de um emprego para outro. A Revolução Industrial alterou profundamente os meios de produção, estimulou e provocou a competição por mercados internos e externos, e, além disso, fez com que o trabalho humano passasse a ser combinado de forma sistemática às máquinas e inovações tecnológicas. As mudanças permanentes passaram a ser estimuladas aliando liberdade de pensamento a apoio político para a invenção de novos e mais sofisticados instrumentos.  

 

 

Capitalismo 

Sistema econômico surgido na Europa nos séculos XVI e XVII, o capitalismo desenvolveu-se estimulado pela Revolução Industrial e está fundamentado na propriedade privada no mercado com transações monetárias. Isso significa, por exemplo, que no sistema capitalista as fábricas, lojas, escolas, hospitais podem pertencer a empresários, e não ao Estado. Além disso, a produção e a distribuição das riquezas são determinadas pelo mercado, ou seja, em tese, os preços são definidos pelo jogo da oferta e da procura. De maneira geral, podemos resumir o funcionamento desse sistema da seguinte forma: o proprietário da empresa (o capitalista) compra a força de trabalho de terceiros (os proletários) para produzir bens que, uma vez comercializados, lhe permitem recuperar o capital investido e obter um excedente (lucro).

 

 

Afinal, para onde a razão nos conduziu?

A trajetória das sociedades ocidentais que acabamos de descrever de forma resumida não conduziu os homens ao paraíso. A vitória da razão e dos princípios democráticos oriundos das revoluções Americana e Francesa e do capitalismo não solucionou todos os problemas. Ao contrário, logo surgiram desmandos e outras explorações.

O século XIX viu o novo sistema capitalista, fundamentado na propriedade privada e tendo como principais atores a burguesia e o proletariado, produzir prosperidade e pobreza, avanços e misérias. Para onde teriam escapado os ideais libertários e igualitários do século XVIII?

As transformações sofridas pela sociedade moderna nos campos intelectual, político e econômico acabaram por gerar perguntas que exigiram o esforço de pensadores para respondê-las: Se os homens têm direitos iguais, se todos são cidadãos, por que a sociedade é tão desigual? Como explicar e tratar as diferenças? Como combinar tradição com modernidade, costume com novidade? Foi na cidade que essas questões afloraram e foi lá também que se desenvolveu a proposta de pensar sobre elas. A Sociologia nasceu com esse desafio: compreender as alterações profundas por que passaram as sociedades e refletir sobre a maneira como os homens e mulheres reagiram a elas. Como disse o sociólogo norte-americano Robert Nisbet a respeito desse novo campo do conhecimento: “[...] as ideias fundamentais da sociologia europeia são mais bem compreendidas como respostas ao problema da ordem, criado em princípio do século XIX pelo colapso do velho regime, sob os golpes do industrialismo e da democracia revolucionária”.

Há outra condição que também deve ser considerada para entendermos o “nascimento” da Sociologia: ela representa um campo de conhecimento que depende da liberdade de pensamento, do exercício da razão e da controvérsia, da possibilidade de manifestação pública de ideias distintas e muitas vezes opostas. Essa condição foi alcançada na Europa do século XIX, e desde então os sociólogos estão entre aqueles que lutam para que ela jamais desapareça.

 

Bibliografia

Tempos modernos, tempos de sociologia: ensino médio: volume único / Helena Bomeny... [et al.] (coordenação). — 2. ed. — São Paulo: Editora do Brasil, 2013.

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