Vimos no capítulo sobre cultura
que nossas sociedades são multiculturais, ou seja, temos a presença de
diferentes grupos culturais numa mesma sociedade, estejamos nos referindo à
cidade ou à nação. Entretanto, ter a consciência dessa realidade nos faz ficar
atentos a fatos concretos que dizem respeito aos diversos interesses de grupos
e pessoas.
Queremos dizer com isso que
quando uma pessoa ou grupo considera normal ou natural uma situação ou ideia,
muitas vezes essa normalidade ou naturalidade se expressa como relação de poder,
desigualdade ou opressão.
Para a Sociologia, falar em
sociedade não significa descrevê-la simplesmente de forma homogênea. Quando
fazemos uma análise das sociedades, identificamos de imediato a existência de
desigualdades sociais e diferenças entre grupos e pessoas. As desigualdades são
fabricadas pelas relações sociais, econômicas, culturais e políticas.
Geralmente, as classes ou camadas superiores das sociedades são as mesmas,
tanto sob o ponto de vista cultural ou político. O que estamos querendo dizer é
que as classes sociais ou camadas superiores das sociedades são as mesmas em
termos de manutenção do poder político e dos privilégios sociais e econômicos,
reproduzindo sua dominação através da cultura e da disseminação de certa visão
de mundo. Porém, devemos chamar a atenção para não confundirmos desigualdade
social com diferenças sociais e culturais
dos indivíduos, grupos e sociedades.
As
desigualdades sociais são definidas a partir das condições sociais e
econômicas de determinados grupos. Isto é, há grupos que possuem mais
riquezas do que outros e maior acesso a determinados serviços, gerando uma
sociedade desigual, na qual poucos possuem muitas riquezas e bens materiais e
muitos possuem pouca ou nenhuma riqueza material. A
diferença social e cultural, por outro lado, significa que os indivíduos
ou grupos são apenas diferentes e não superiores e inferiores. O indivíduo
originário do continente africano é diferente do chinês ou do europeu; a
mulher é diferente do homem; o heterossexual é diferente do homossexual; o
adepto ao candomblé cultua uma religião diferente da do evangélico; as
pessoas com deficiências são diferentes daqueles que não possuem necessidades
educacionais especiais, e assim por diante. Essas características dos seres humanos
não significam superioridade ou inferioridade de uns sobre outros. |
Nas sociedades onde existem
muitas diferenças sociais e culturais – como é o caso da nossa –, estas podem
se transformar em fatores de desigualdades. Isto quer dizer que os “outros”,
que muitas vezes não são considerados “normais”, aparecem como “entidades
ameaçadoras”. Daí, surgirem comportamentos e atitudes de discriminação,
preconceitos, racismos, machismos, homofobia etc. Na forma física, afetiva e
ideológica, os que se consideram “normais” evitam contatos e criam seus
próprios mundos, excluindo os que são considerados como “diferentes”. Por isso,
a consciência do caráter multicultural de uma sociedade não leva
necessariamente ao desenvolvimento de uma relação social de trocas e relações
entre as culturas – o chamado interculturalismo.
Em 2007, no enredo e na letra
do sambaenredo da Escola de Samba Império Serrano, do Rio de Janeiro,
cantava-se: Quem nasceu diferente, e
venceu preconceito, a gente tem que admirar. Este samba fala dos portadores
de necessidades especiais, porém podemos ampliar esta ideia de que todas as
diferenças são normais. Entretanto, se ser diferente é normal, lidar com a
diferença é difícil em função das relações de poder entre as pessoas e grupos.
Bibliografia
OLIVEIRA, Luiz Fernandes de,
1968- 4. ed. Sociologia para jovens do século XXI : manual do professor / Luiz
Fernandes de Oliveira, Ricardo Cesar Rocha da Costa. - 4. ed. - Rio de Janeiro
: Imperial Novo Milênio, 2016.